PROCURANDO O SONO

Às vezes a noite nos parece curta. Dependendo do que nos ocorrer ela fica longa. Perder o sono dá a impressão de que nossa noite foi curta. A gente acorda, bola pra lá, bola pra cá e nada de retomar o sono. Noutras vezes a gente passa da hora, como se o sono nos houvesse conduzido consigo. Como a vida, o sono é cheio de mistérios. Saber o ponto certo requer transcendência, mas o fato é que viver é produto de muita sabedoria.

Dormir e acordar não tem mistérios entre si. O mistério está no ponto de equilíbrio que temos que ter entre “viver dormindo” ou “acordar pra vida”. A chave da sabedoria talvez se encontre entre os dois de forma etérea. Quantas vezes temos que nos fingir de sonolentos para que determinadas coisas se instalem? Quantas vezes temos que fingir que estamos acordados para que nossos sonhos se estabeleçam plenamente?

Viver talvez seja isto: as possibilidades que temos de fazer da noite curta nossa vida mais longa; da noite longa, nosso sonho bom de felicidade alhures. Identificar o tempo é um pouco do que nos cabe. Contudo, não nos caberá, certamente, entregar a ele nossos desejos mais imediatos. Ao tempo o que é dele. À noite o que dela se compuser e ao dia a mais terna certeza de que há luz na criatura.

“Quanto mais negra é a noite, mais longa é a madrugada”. Quanto mais claro é o dia mais infinitos conterá a noite para que nos abrigue da solidão, da insônia, do medo da morte, da soberba dos homens.