Over. Doses.
Deixo tudo ir. Tudo ir de mim.
Meu bom senso, meu ego, meu nexo, meu ócio.
Abraço tudo o que critico. Sou vil. Trato crianças mal. Trato cachorros mal.
Tomo doses de tudo. Doses que já não cabem em mim.
De forma consciente. De maneira mais amena. À esmo. Doses homeopáticas de suicídio.
Nunca gostei de doses longas. Não sou adepta da extensão do caos particular, não sou capaz de me auto-ajudar.
Deixa ir. Deixa ir em paz.
Me deixa em paz, que um dia vai passar. Vou tomar mais um pouco desse pecado pra mim. O pecado que recorda-se melhor do que eu da vida que deixei pra trás. Não muito melhor que esta, assumo. E depois desta, o que há de ser? Haverá de ser?
Não, pararei com isso. Desesperança não combina comigo. Desinteresse, esta é a palavra! Desinteresse, ou interesse seletivo. Interesse em pó solúvel. Auto-piedade não é sensual. Já cansei de contar com o mundo, cansei de contar pro mundo, e agora é tudo meu. Esse nada todo, é todo meu. Não dividirei meu nada com ninguém. Eu não sou uma faísca que um dia irá acender. Não tenho paciência pra faíscas. Eu nem sou muito amante da luz.
Mais um dia, mais uma dose. O gosto outrora amargo hoje me fez bem. Não quero que seja doce, não quero sentir prazer. O prazer está na arte de perder, pra sabermos que foi doce.
Não vou perder, não estou perdendo, estou jogando fora. Estou guardando em minha gaveta pesada e demodé, com cheiro de traças, naftalina, e aqueles pacotes de bolinhas em gel anti-umidade que minha mãe colocava em meu baú de brinquedos.
Eu continuo alérgica ao mundo, e a umidade continua aqui.
Pra hoje, vou querer dose dupla. O desejo é consciente. É uma overdose.
De mim.