TUA FOTO, PELA PRIMEIRA VEZ
Quando vi tua foto pela primeira vez, há mais de 22 anos, uma foto já antiga do homem que eu só viria a conhecer alguns meses depois, intuí de modo um pouco assustador que, nessa foto estava inscrita também toda a minha história futura, esta história que te pertence tanto quanto a mim e que nunca teve começo nem meio nem fim. Esta história já com os outros seres tão perdidos nela quanto nós, esta história que nunca nos foi dado compreender.
Quando vi tua foto pela primeira vez, ainda sem te conhecer,senti que me fitavas tão fundo como o fundo do mar, como o fundo do céu, como o fundo da terra a me fitar, e senti que os teus olhos guardavam a imagem do meu rosto, nessa foto já antiga de ti, a imagem do meu rosto que jamais havias visto antes desse momento em que vi tua foto pela primeira vez.
Naquela noite em que vi tua foto pela primeira vez, teu rosto e teu olhar me contaram, imediatamente, que ali já estava inscrita, inteira, esta nossa história que nunca nos foi dado compreender, esta história também de tantos outros seres e destinos tão perdidos quanto nós, a nossa história, esta vida, esta morte, esta Dor, esta inacreditável saudade sem remédio de tudo o que não nos demos nem nos deram o direito de viver.
Na madrugada de 20 de fevereiro de 2011, na Capital de São Paulo, Brasil.