CLARINS DE MOMO
As folias de momo me tomam por dez. Ladeiras de Olinda, por quem queres que eu seja, por que não me dizes quem és?
No fogo do homem da meia noite, queimo meus sentimentos ateus. Aval dos pecados da carne, nau sem rumo dos farsantes, dos itinierantes amores maiores que a mulher do dia acalenta.
Do farol ao faroleiro, do time ao timoneiro, de pitomba à pitombeira, não há eira nem beira no varal dos encantos do meu carnaval. Ele é pobre de adereços, de endereços, mas rico de sonhos.
Solto-os todos qual franga tonta perdida por entre confetes e serpentinas. Em cada esquina um canto, em cada canto quatro cantos de mim: beco da dedada, ladeira sem misericórdia, praça de São Peido - unção do fortim dos outros com o de mim.
Folia de momo. Caipirinha com limão macerado, envolvido em minha solidão. Pau do índio no alto da Sé, enquanto em Recife o Bloco da Saudade me dobra qual dobrado executado nos coretos da minha terra.
Encerro o véu da noite doida. Afoita, a noite dos tambores silenciosos me acasala todo passado nigérrimo dos ancestrais. Pai de santo socorre meu cadomblé. Oxum e Tranca Rua, me leva pra rua como erê de São Cosme e Damião.
Os tambores silenciados, retorno a minha sala repleta dos troféus ganhos pelos amores perdidos em cada bloco que desfilava no Recife antigo; em cada noite sozinho ou contigo.
Meu frevo vai danado pra Catende, vai danado pra Catende com vontade de chegar. Chega o em Bezerros do Papa Angu, da La Ursa. Irrompe Nazaré da mata em forma de maracatu. Maraca-eu, enquanto chega o caboclinho e tu não chegas para o afago do meu bloco.
Invoco o Galo da Madrugada. Na Rua de São José quero ver quem é, quero ver quem é homem e quem é mulher e quem não é nenhum dos dois. Se amores são, nem falo. Invoco o galo em seu falo bramido – estampido dos horrores que jogaram merda na Geni.
No beco do mijo, mijo. No seco esconderijo se urina na rua como se no passado estivessem urinando, vertendo pra fora desamores e rancores de antigas futricas de amor.
Lá vem a quarta feira carregada de pecado. Lá vem o padre com a água benta para afugentar minha ressaca misturada com “inhaca”; cheiro de xibiu ou de pitoca? A moça não se toca e me toca no “berimbau” ofegante a melodia lírica rica de faz de conta na conta dos pecados da carne.
Ao som dos clarins de momo o povo aclama com esplendor, ó Elefante exaltando tuas tradições e também teu esplendor...