MODELANDO NOSSOS SONHOS
Parece-me ter passado a vida a modelar meus sonhos a partir da evocação dos traços que compõem teu rosto.
Parece-me teres passado a vida a modelar teus sonhos a partir da evocação dos traços que compõem meu rosto.
As evocações dos traços dos nossos rostos, os do teu, os do meu, foram a argila, a matéria-prima com que modelamos, tu, os teus sonhos; eu, os meus.
Foram, as evocações dos traços dos nossos rostos, os do meu, os do teu, a argila, a matéria-prima com que modelamos, eu, os meus sonhos; tu, os teus.
Nunca vi os sonhos que modelaste com a argila dos traços do meu rosto; nunca viste os sonhos que modelei com a argila dos traços do teu rosto.
Sei apenas, há muito tempo, os traços do meu rosto a se diluirem, cada vez mais, na imagem do espelho. O mesmo vives a dizer e a repetir, ad infinitum, sobre os traços do teu rosto no espelho.
Os traços dos nossos rostos, argila com que se modelaram o teu e o meu sonho, a desaparecerem dos espelhos.
Hoje, onde os sonhos por nós modelados? Onde a argila com que foram modelados? Onde os traços dos nossos rostos?
É preciso que se recomece tudo, a partir, agora, deste quase ponto zero. Urge recomeçar, no sentido inverso ao do antigo percurso.
Ajudemo-nos, escultor; recomecemos o trabalho. Vamos modelar, de novo, eu, os traços do teu rosto; tu, os traços do meu rosto.
Recomecemos, escultor, o caminho para o nosso retorno.
Na manhã de 17 de fevereiro de 2011.