O perfume e a química
Certa vez eu trabalhei uma temporada em uma fábrica de perfumes. Então fiz amizade com a química responsável, e nas nossas conversas eu perguntei se poderia fabricar para mim, um perfume tal, que eu tinha em mente. Ela disse que sim, que eu aguardasse, ela iria fazê-lo para mim. Me mostrou um punhado de essências, até que cheguei àquela que gostava e a escolhi.
E assim foi feito. Passado uma semana mais ou menos, fui na sala dela, ela disse que estava pronto. Mas não podia usar ainda, dependia de maturação. Dependia de um tempo pra fixar a essência, coisa e tal. Eu só poderia usá-lo um mês depois, no mínimo. Antes, iria sentir o cheiro quase só de álcool, não ia fixar bem. Peguei o frasco, agradeci e ao sentir o aroma, não estava muito bom. Fiquei meio frustrado. Levei-o pra casa e guardei e me esqueci dele.
Passados uns dois meses, foi que me lembrei dele novamente. O peguei, abri. Estava perfeito, era exatamente o que eu tinha em mente. E acreditem: Eu tinha um perfume exclusivo, feito sob encomenda. E era muito bom. Suave, muito agradável.
Trazendo para nossa vida afetiva, a química do relacionamento, a exemplo da química do laboratório, também depende de maturação, de conhecimento, de construção da confiança, de aprendizado, de doação, de conquista. Coisa que só é possível com o tempo, embora muitas vezes, à primeira vista julgamos ter encontrado a pessoa que tanto procuramos.
Porém...
No laboratório, se eu não gostar da essência, da fragrância, não tem fórmula, não tem combinação, não tem maturação que dê jeito. Pode ser um perfume perfeito, venerado no mundo inteiro, que eu não vou gostar.
Na vida amorosa é a mesma coisa. Muitas vezes encontramos uma pessoa maravilhosa, bela, carismática e que o mundo inteiro a deseja para par, para chamar de sua. Menos eu. Fico feliz apenas com sua amizade. Pode sim, ter ingredientes perfeitos, mas não vai fluir.
Mas mesmo assim a vida continua naturalmente, ninguém fica em débito com ninguém.