RECANTO (substantivo masculino)
1. Lugar retirado ou oculto.
2. Esconderijo, escondedouro, escaninho.
3. Lugar aprazível ou confortável.
Que o poeta seja triste e solitário
Taciturno, meditabundo e rabugento
Que seja por crise existencial
Ou talvez por pensar muito
Que o seja por um amor perdido
Ou por causa das agruras do mundo
Ou ainda os dissabores dessa vida
Pelas incertezas próprias da existência
A deplorar o horror e a violência
O mau gosto, o desgosto
A aparência nefasta que tudo tem
Ou a dificuldade de atingir a essência
Que queira, mesmo em vão, com suas palavras
Construir o novo dos escombros do antigo
Redesenhar horizontes, traçar outro caminho
E refazer as buscas, a procura e a espera
Que o poeta seja arauto d’alguma esperança
Que não sabemos mais se ainda temos
Nem sequer se ainda existe ou pode existir
Que o poeta seja, então, solitário e triste
Mas aquele que ainda resiste e insiste
Aquele que teima ainda em existir
Imaginando haver coisas tão lindas
Assim é o poeta e só assim é poeta
Ou deveria ser por pura necessidade
Em sua sina mal definida
E na sua decidida vontade
Algo além de qualquer vaidade
Desejo de fama e reconhecimento
Além de sua própria mediocridade
Mas aqui estamos senhoras e senhores!
Nunca antes com tanto poder de dizer
Talvez o que vai muito além de nossas dores
E muito mais além do nosso entendimento
Ou sempre algo mais, ou algo a mais
Mesmo algo demais por vezes, às vezes
Mas aqui estamos senhoras e senhores!
Aos milhares...
Em cada um o rei de seu próprio palácio
Esse grão de poeira indevidamente coroado
Em cada um o deus supremo de seu universo
Com poder de vida e morte sobre a criação
Mas aqui estamos senhoras e senhores!
Uns tantos deploráveis miseráveis guerreiros
Travando inúteis guerras com as palavras
Com a intriga e a infâmia, com a difamação
(Asco de ver tudo isso mesmo de longe)
A inveja explica tudo (ou nem tudo)
O quase nada, quem é que sabe?
Mais que a inveja, um grande sentimento
De tão grande inferioridade
Deu de ser assim hoje em dia
Esconder-se atrás da luz da tela
E atrás da luz é sempre a escuridão
Onde habitam os piores demônios
Deu de ser assim de se esconder atrás
De um nome falso ou fictício
Pseudônimo...
Pseudo-arte, pseudo-artista
“Pseudo-gente”, pseudo-humano
A pseudo-palavra da pseudo-verdade
Pseudo-delírio da pseudo-realidade
Pseudo-grandeza da pseudo-beleza
Pseudo-satisfação da pseudo-felicidade
Pseudofilosofia, pseudo-saber, pseudo-poesia
De tantos que se não são e nem podem ser
Lutam para que tantos outros também não sejam
Depois sei que sempre vem
Os pseudo-afagos das pedradas verdadeiras