[O Adormecer das Ilusões]

Da proporção entre as coisas,

pouco sabemos; assim,

erramos ora por excesso,

ora por falta de agir e de exprimir.

Mas aquilo sim, que era falta de senso,

pois, na ânsia de construir um transporte

para as suas ilusões de criança,

ele usou pregos de mata-burros

para firmar uma caixeta de goiabada!

Sob o peso e o impacto de tais cravos,

o frágil carrinho das ilusões desmantelou-se,

seus cacos ficaram espalhados na varanda,

e o menino, vário como toda criança,

pensou então num modo laçar estrelas,

queria, agora, ter um carro de fogo!

Logo viu: quis muito, pôde pouco...

De tanta falta de senso de proporção,

de tanto sonhar impossibilidades,

só lhe restou mesmo ir contemplar

os trens que partiam da cidade:

ali, sem ter de exercer vontades,

viu que o entardecer faz crescer o vazio,

e impõe esperas, ou adormece ilusões...

[Que sei eu de construir ilusões...

usando cravos de mata-burros?!

De esperas e vazios, sei alguma coisa...]

[Penas do Desterro, 13 de fevereiro de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 13/02/2011
Reeditado em 19/04/2011
Código do texto: T2790358
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