Eu fico assim
Transido pelos silêncios difíceis
Cingido pelas cinzas dos sonhos
Irisado de penumbras das palavras
Incendiado desses fogos fáceis
Consumido por medos e desejos
Perdido em passos em falso
Mal definido por atos falhos

Eu fico assim
Indeciso por entre lembranças
Estático no tempo que passa
E no momento que foge
Bem no instante que morre
Arrasto horas pelas madrugadas
Ensejo fugas por outras estradas
Anseio por vidas que nunca tive
E por amores tantos que perdi
E um amor a mais eu sofri
Tão aflito que não mais senti

Eu fico bem assim
Devastada a terra de onde vim
Rompida a ponte sobre o abismo
Vagando por entre delírios e desertos
Aturdido por esses tantos equívocos
Eu fico bem assim, minha vida
Caminhando só para a morte
Exigível respeito e esquecimento
Cavando meu próprio poço fundo
Do fundo do fim do momento
De um incompreensível sentimento

Eu fico bem assim
Edifico um castelo de solidão
Com fosso e tudo e um belo jardim
E transformo de repente tudo numa prisão
Construindo castelos de verdade na ilusão
E na verdade destruindo castelos dentro de mim

Eu fico bem assim
Desprovido de penduricalhos
Os emocionais e os psicológicos
Os sentimentais e os lógicos
Os ilusórios e até os reais
Os banais e os importantes
E os mais desinteressantes
E sem adornos e contornos
Abro as asas e voo mais

Eu fico assim
Fico bem assim
Tão próximo de tudo
E tão apartado de mim
E agora tudo fica assim
Tudo que é tão distante
Parecendo inexistente
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 13/02/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2790296
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