O AÇUDE DA MATA.
Chagaspires.
O limo criado pelo atrito da água sobre o paredão de concreto da barragem do açude da mata tornava nossos pés escorregadios.
A altura de ambos os lados, causava tontura.
A da direita era um precipício cheio de grandes pedras, por onde o sangradouro jogava as águas do rio.
À esquerda, tomada pelas águas escuras, transmitia uma sensação de profundidade. Mesmo assim toda turma resolveu atravessar de um lado para o outro a barragem, naquela manhã de primavera.
Minhas pernas tremiam ligeiramente, mais fui o primeiro a começar a travessia.
O inicio da primeira parte do percurso foi mais fácil do que supunha, apesar do contato com a água fria e da sombra das árvores da margem esquerda da mata.
O suor molhava minha face de adolescente que começa a descobrir as coisas perigosas da vida.
A distância de um lado a outro do paredão de concreto, era de mais ou menos 20 (vinte) metros.
Em fila indiana e aos poucos, os outros meninos foram adentrando na passarela, deslizando os pés devagarzinho, por sobre a armação de cimento.
Aqui e acolá, pequenos peixes passavam pela correnteza esbarrando em nossos pés, causando uma sensação de medo e desequilíbrio.
O vento forte ao chocar-se com nossos corpos produzia em nossa audaciosa expedição, um tremor profundo. Ainda não sabíamos como terminaria a perigosa jornada.
De vez em quando, eu arriscava uma olhadela para o vazio o que me fazia ficar um pouco zonzo. Mesmo assim persistia na caminhada.
O restante do grupo também continuava progredindo.
Em dado momento, uma lufada de vento me fez perder o equilíbrio quase caindo para o lado do abismo, todo resto da coluna gritou estarrecida. Naquele instante todo meu ser desejou não estar naquela situação inusitada, mas o forte apego a vida me ajudou a voltar para o centro do paredão.
Só faltavam uns dez metros para concluir a travessia.
Apressei os passos com segurança e logo alcancei o outro lado. O restante do grupo foi chegando de mansinho terminando desse jeito a destemida façanha.
Éramos em torno de cinco meninos e tínhamos dado uma escapadela sem que nossos pais percebessem.
Aquele fato me serviria de exemplo pelo resto da vida.
Algumas vezes é preciso que nos arrisquemos, para atingirmos nossos objetivos.
Já dizia minha querida mãe, “quem não arrisca não petisca”.