E, depois, não caminhar mais
Desconhecer estradas e vontades
Perder os desejos e os horizontes
Estranhar sonhos e paisagens
Cuspir palavras incolores
Atravessar lirismos fátuos
Extinguir o fogo dos amores
Depois ir e nem voltar mais
Petrificar-se nesses lugares
Diluir-se em tempestades
Tornar-se ruína e escombros
Acabar-se em dores pelos mares
Que tanto carregou nos ombros
Depois o assombro e mais assombro
Estar sempre mais distante
E mais distante estar ainda
Do que sempre se pode estar
E ir além, bem mais distante ainda
A ponto de não poder mais voltar
Inevitável não querer nem tentar
Desfazer-se da hora de partir
Abandonar a hora de voltar
Descuidar dos passos
Desacreditando destinos
Vislumbrar todos os abismos
E afundar os olhos fartos
Em visões de esquecimentos
Cegueira, gagueira, estupefação
Anda-se tanto e tanto se voa
Para não sair do chão
Para se estar bem aqui
Onde a vida escorre da mão
E se perde feito rio covarde
Feito fogo que tanto arde
Vento veloz que sempre parte
Mais tarde do que sempre devia
Num mais belo fim de tarde
Onde tarde tudo morria

Eu entendo tudo
Mas metade disso não aceito
E metade da metade que aceito
O quanto antes não compreendo
Tudo segue seu rumo imperfeito
Só eu é que sigo assim vivendo
Refazendo o que nem foi desfeito

Poesia, esse ar rarefeito
Respiro essa dor dentro do peito
Escarro palavras já tão cansadas
E desfaço o que nem foi feito
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 11/02/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2785108
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