ENSAIO SOBRE AS ACÁCIAS II
Algumas notas de um piano velho e empoeirado, decorado com as tapeçarias das filhas de Aracne.
Fios de prata estendidos no ar, traçando e refletindo o que é a vida e destino. Eles tremem com as vagas de um som mórbido e fúnebre.
As cortinas negras escondem em seus bustos o vislumbre da liberdade e esplendor. Como as unicas figuras oniscientes, elas se guardam em seu silêncio meditativo e pensam em toda a culpa e heresias praticadas pelo Tempo.
O esboço de um sorriso pendurado na parede frontal dá vida ao luto com camadas de óleo aromático de amêndoas.
A enigmática senhora vê, com seus olhos-que-tudo-veem, os lindos ramos de acácias tomados pelo mofo, desidratados e sem a cor vibrante de uma época próspera.
A dama andrógina mergulha na correnteza da canção promíscua e lembra-se do vermelho intenso de outras estações e das coxas rígidas de seus bailarinos ciganos. Ela abraça em postura imperial o vaso de cristal vagabundo, que se parte antes de iniciar uma dança e se desfaz em um pó alucinógino.
As montanhas assimétricas às suas costas abandonam a sua solidão ao verem-na deitada no chão repleto de poeira, cocaína e morte às acácias!
Lágrimas de chuva caem do teto de vidro guiadas por um criptar de fogos multicoloridos e inundam o espaço entre as dimensões. O odor do enxofre se mistura com a ilusão do paraíso e o que era belo desaparece em cinzas.
Uma nova tela surge e a Dama do Sorriso Discreto está em chamas douradas tocando sua melodia em um piano destruído. Tecendo sua dor em acordes que nos lembram os cachos de luz solar da linda árvore que flameja em ouro.