ALFARRÁBIOS

Certa vez, conversando com um amigo, lhe perguntei sobre certos fatos a nós ocorridos, o mesmo de imediato respondeu:

-Minha querida, vou consultar meus alfarrábios. Então fiquei ali parada com um sorriso de quem faz de conta que entendeu. Logo em seguida já estávamos conversando sobre outras coisas.

Aquela palavra, Alfarrábios, guardei. Pois no momento, no meu minúsculo vocabulário ela era desconhecida e, era um horror admitir frente a meu amigo que não conhecia o significado de tal palavra. "Pois sou professora", como se tal fato fosse um registro autenticado de ter total conhecimento de tudo. Apenas memorizei( coisa que para minha pessoa também não é assim tão fácil). Mas não esqueci, e ao chegar em casa fui direto ao que meu pai chamava de "amansa burro" e lá estava: Livro Antigo ou Velho. Voltei a pensar no que eu e meu amigo conversávamos, então coloquei o sentido exato daquela palavra na nossa conversa e balbuciei:

-Danado! Achou uma forma rápida e inteligente de fugir da minha pergunta! Mas como dizem os antigos: Vivendo e aprendendo. Este com certeza, é um provérbio que deve ter vindo de sábios livros antigos.

Após o acontecido comecei a devanear, como faço sempre que converso com as pessoas, tentando entende-las, por suas palavras, ações, ou apenas quando penso sobre determinados assuntos ou situações que eu esteja vivenciando.

Alfarrábios, livro antigo, é uma comparação de vida ou vivência, quem não os tem? Pois o antigo pode ser aquilo que foi vivenciado a minutos, segundos atrás, não necessáriamente em séculos ou milênios. É a existência de nossos sonhos que ás vezes num piscar de olhos já aconteceu ou se transformou na realidade do desejo da mudança. Pode ser também o olhar egoísta da humanidade que corre e corre, não crendo e nem vendo o tempo passar, segue apenas ajustando ponteiros com o ilusório poder de ser dono da situação.

A vida é uma coletânea de Alfarrábios, de páginas amareladas ou não, as cores destas páginas são nossas manifestações como seres criadores ou copiadores de tantos outros Alfarrábios, em folhas soltas ao vento, percorrendo caminhos determinados por aragens, redemoinho, tufões ou apenas uma brisa. Se imagine a olhar estas folhas espalhando-se, soltas ao ar, seria possível juntá-las? As vezes o olhar de um observador nem sempre é a mais justa posição, podendo vir a ser apenas uma conveniência, e isto, com certeza, não ajuda a fazer a diferença entre o possível e o impossível.

O seu, o meu Alfarrábio pode ser o único, mas com certeza será sempre importante, e a textura do seu papel frente ao meu definirá por sua resistência e a minha, o valor do livro antigo.

Em vários momentos de minha vida obtive os mais variados conhecimentos e as mais variadas formas biológicas e psicológicas de seres humanos, uns conservei por enlaces familiares, outros por coleguismo, ou ainda por situações ocasionais, mas poucos por verdadeira e absoluta amizade, aquelas que transcendem a escrita da página de qualquer livro novo ou antigo.

A isto creio que chamamos de relacionamentos, todos com maior ou menor significado, mas todos são existencias em racionais ou irracionais emoções. É fato que elas trazem importância para a escrita, pois toda a forma de sensibilidade é parte integrante do ser, e as nossas emoções são em sua maioria reações que vieram da observação ou/e reações provocadas no outro e em mim, podendo ser muito ou nada, mas de qualquer forma um sentido em algum contexto, ou apenas um personagem de texto que se fará existir pela insistência de seu autor.

Ulda Melo
Enviado por Ulda Melo em 04/02/2011
Código do texto: T2772076