TÂNIA ORSI VARGAS & TÂNIA MENESES _ O OLHAR
"Nos olhares encontramos tudo, céu e inferno. Pra dentro de um olhar percorremos infinitas distâncias, caímos inteiros e restamos cativos quando nele brilha o reflexo da nossa própria exaltação e êxtase. Antes da palavra, muito antes da palavra, num momento precioso e único da evolução humana, os olhos certamente convergiram e se viram." (TÂNIA ORSI VARGAS)
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Olhos são veleiros do mundo e enfunam velas e ventos de guerra e de paz.
No olhar penetram os segredos da natureza.
Brotam de escombros olhos de assombro e penas de existir nos ombros.
E a saudade antecipada ao fim. As lembranças vagam de mãos postas
Vivem no profundo tormento das retinas as marcas, vivas feridas exposta à luz d’outro olhar.
Sob o sol do olhar espreguiça-se a humanidade em desassossego e pululam cenas de lamento.
Eu nem sei que canção é esta que não cessa, que não para de dedilhar meu cérebro e fecha minhas pálpebras para abrigar incompletudes no doce olhar amado.
Olho no olhar do outro o fustigar dos ventos conhecidos.
Preparo tormentas no cenário vermelho das interioridades e encontro na conjunção dos ventos as velas esfarrapadas de uma batalha perdida.
Afundo na consciência a brisa de praias longínquas e as quietas ondas da percepção final. Despencam em mim os relógios líquidos de Salvador Dalí. (TÂNIA MENESES)