Brisa

Manhãzinha, bem cedo,

Por vezes ainda escuro,

Ela ia entrando pela janela,

Que já se fazia aberta

Par a par, àquela hora;

A espera, convidativa.

No outono vinha fresca,

Perfumada nos jasmineiros,

Varria o aposento, calma,

E escapava, nua, pelo corredor.

Por vezes não vinha,

E eu a esperava ansioso

Olhando da janela, desde

O canterinho encostadiço

Até os mamoeiros altos,

Apinhadinhos e retos.

No inverno chegava gelada,

Banhada no orvalho matinal

Impregnada pelos narcisos e

Pelo vermelho das suínas.

Se não vinha bem cedo

(talvez dormisse ainda),

Restava, ao menos (consolo)

O prolongamento do sono,

Provocando breves sonhos,

Voantes e ligeiros.

Na primavera era buliçosa.

Com o perfume das gardênias

Inspirava amores novos ou

Fazia recordar os antigos.

E como era bom senti-la.

Ser por ela envolvido e

Arrastado para os cúmulos

(Algodões longínquos),

Flutuando desprendido

Pelo azul sereno da manhã.

No verão, quando aparecia,

Vinha morna e preguiçosa.

Indolente hálito doce

Das rosálias floridas.

Luiz Vila Flor
Enviado por Luiz Vila Flor em 03/02/2011
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