prece apressada
Não me queira ensinar uma oração. Minha reza sai de dentro de mim por mim, porque sou meu Deus e meu Senhor. O Deus que acredito está sobre qualquer conceito e se por assim ser é, como posso querer de mim uma oração projetada por quem não ama como eu, nem sofre como eu, nem chora como eu, nem ri como eu? Todos esses sentimentos me pertencem como me pertencem a certeza de que não há certeza absoluta para os meus relativos males construídos no dia a dia.
Não me queira ensinar, além da oração, novas lições. A arte encena, a vida ensina e Deus se cala como forma de consentimento. Não me queiras mal. O mal que me queres não serve pra mim, mas pra ti. Tampouco não me queiras bem pelo mesmo motivo. Apenas sorria comigo, cante comigo, fuja comigo se preciso for. Mas se de fato resolver fugir comigo, leve o seu EU consigo; carregue suas próprias certezas e não temas o escuro. O princípio do prazer é como o escuro, porque no claro não há mistérios que provoquem desafios. A luz da noite não é a mesma luz do dia, porque ao dia foi concedida a travessia da razão e à noite a da ilusão. Não me queira ensinar uma lição. A lição da vida ela mesma nos dá caladinha, num canto qualquer da sala de estar. Mesmo que não fiquemos nela, mas ela ficará encalacrada no nada que um dia sermos pelo pó que nos aguarda para o juízo final.