MEU IRMÃO
E sobre o chão seco e sedento de água
Nossos pés descalços e feridos de léguas
Percorremos milhas e milhas, mas não desistimos
Dirigíamos ao horizonte como as aves a procura de terra firme
Porque lá, sabíamos, outros pés descalços travavam a mesma luta
E como que indo a encontro marcado avançamos, nossa história era a mesma
Lá aportamos e recebidos de braços abertos, éramos um só.
Quiseram outros a serviço da realeza corrupta
Contaminar nossos corações com prêmios e medalhões
Porém de olhos esbugalhados a saltarem da órbita
Não suportaram a negativa nunca antes desferida
E calados adentraram ao castelo e seus ouvidos ensurdeceram
Ao ouvirem o vozerio da massa em cânticos de felicidade.
E decididos a nunca abandonar a luta
Enfrentamos a fome, o frio e a chuva
Porque sabemos que sem garra e muita luta, nada nos darão
E a fórceps arrancaremos deles nosso sangue explorado
E o chão seco e sedento de água
Cederá lugar à fartura e a mesa estará posta
E ninguém mais sucumbirá à falta do alimento.
Somos irmãos de luta
Nossa terra condenada à secura
Não nos afasta porque sabemos
Meu irmão, nosso chão é nossa morada
E mesmo que nos falte o teto
Teremos em companhia o céu estrelado
E se nos faltar a luz cobrada a peso de ouro
Também não nos daremos por vencido
Teremos a Lua a iluminar nossos rostos.
Não suportarão nos ver assim irmanados
Nos negarão a água igualmente cara
Mas a sede não nos atingirá
À noite nos mandará o orvalho
E nossas gargantas se fortalecerão para outros brados.
Somos irmãos
Juntos restabeleceremos nossas forças
E enfrentaremos os felinos dentes ocupante do trono
E ele, sei, mandará a guarda e suas armas
E juntos os enfrentaremos de peito aberto.
Que a ponta da lança perfure nossa carne
Que suas balas matem nossos corações
Ou que o punhal corte nossas veias
Não morreremos
Não cairemos derrotados
Lutaremos ainda que nos mande os canhões.
Somos soldados sem farda
Somos soldados sem arma
Somos a massa, o povo do mundo
Que não ignorando sua história
Prossegue no sonho da igualdade universal.