O Tempo
“Desde quando o tempo é constante?” Perguntou ao relojoeiro, quase ofendido. “Desde sempre, ora! Desde quando o mundo se tornou mundo.” O outro homem riu da resposta; tirou o chapéu e, pela janela, contemplou Paris mais uma vez. Pensou no dito tempo, em todos os dias que aquela cidade já viveu. Pensou em todas as revoltas e festas, nos beijos e abraços e também em seus amores. Até tentou cantar um daqueles seus velhos versos, mas calou-se e abriu um sorriso desde o canto da boca. “És um tolo, relojoeiro infeliz. Precisa de mais dias ao lado dos poetas ou das mulheres. Vá, e só depois me diga se o tempo é ou não constante; se as horas do seu maldito cronômetro correm da mesma forma em todos os momentos.”