PRELÚDIO DERRADEIRO
(Que se leia em pequenos goles, que a taça está cheia)
Prometeu roubou o fogo divino e o deu aos homens. Zeus, o pai dos deuses, enfurecido, o acorrentou a uma rocha e como castigo uma águia devorava-lhe durante o dia o fígado, que regenerava à noite, para ser novamente devorado.
Toco de leve o fogo divino
Abrasa-me e sigo intacto
Roço de leve um fogo demoníaco
Que arde na alma e não destrói
Fogo desses infernos tão familiares
E tão próximos de nossos estranhos céus
Dádiva e castigo que vem unidos
Por uma mesma absurda dúvida
Que nos incendeia desses profundos mistérios
Que nascem desses céus familiares
E vem habitar esses estranhos infernos
Um mistério tão grande de pisar a terra
E de andar perdido sobre a terra
E deitar finalmente na terra
E morrer e viver essas vãs incertezas
Que tudo me conta num sussurro
Como numa brisa suave na madrugada
Que existir é só tudo isso que nos dói
Toco o fogo que arde da poesia
E me firo desses lirismos desencontrados
Queimo o olhar para a beleza perdida das coisas
As palavras moram dentro da gente
Fora da gente tudo é só imaginação
Sonhos e devaneios, vôos, tudo ilusão
Roubo a centelha de um fogo divino
De um fogo imenso e tão mais intenso
Que queima o silêncio de que nasce a poesia
Que me angustia por estar vivo impunemente
Não há em mim nenhum medo desse fogo
Nem da morte certa e da vida incerta
Nem das horas arredias que me arrastam
Nem do fogo do tempo que me devora
Bem e Mal andam de mãos dadas
Brincam nos acesos e nos apagados dentro de nós
E precisam um do outro, equilibram-se
Equivalem-se e dançam afoitos
Na linha tênue que separa o sim e o não
É natural tudo ser sobrenatural
E tudo ser tão ao contrário
Do que se vê, do que se pensa e sente
Do que nem se imagina
Não nascemos, não morremos
Aqui estamos mortos e viveremos
Somente depois que nos formos
Há só essa vida, não outra
Há só essa porque assim o quis
Porque fiz dessa a pretendida
A preferida, a muito mais vivida
E é nessa lida que tento ser feliz
Gota d’água, de vinho, de sangue
De suor, de fel e de lágrimas
Gota a gota esvaindo-se mansamente
Cada gota de vida, seus momentos
E a cada instante viver intensamente
De cada gota perdida o seu pressentimento
Os monstros soltam-se às vezes
Brotam da terra ou da mente
Escapam de suas correntes
Os fantasmas passeiam minha sala
As dores deitam-se e se levantam comigo
Enquanto a angústia vela-me o sono
Na angústia de sonhos em noites eternas
Quando de pernas pro ar em meu quarto
Num alarido dançam a morte e a vida
Cantando que não é hoje o dia...
Toco de súbito o fogo do amor
Que me toca e consome sem eu perceber
Sem saber no que o fogo me transforma
Ao me devolver este outro já refeito
Sem qualquer juízo muito perfeito
Sobre o que é o fogo, o amor, fogo de dor
Que se equilibram e se equivalem
E brincam nos apagados e nos acesos
Com essa centelha infinita dentro de nós
Prelúdio derradeiro do fogo primeiro
Primeira dor do amor fogo verdadeiro
Que arde eterno e me consome
E sempre me devolve inteiro
(Que se leia em pequenos goles, que a taça está cheia)
Prometeu roubou o fogo divino e o deu aos homens. Zeus, o pai dos deuses, enfurecido, o acorrentou a uma rocha e como castigo uma águia devorava-lhe durante o dia o fígado, que regenerava à noite, para ser novamente devorado.
Toco de leve o fogo divino
Abrasa-me e sigo intacto
Roço de leve um fogo demoníaco
Que arde na alma e não destrói
Fogo desses infernos tão familiares
E tão próximos de nossos estranhos céus
Dádiva e castigo que vem unidos
Por uma mesma absurda dúvida
Que nos incendeia desses profundos mistérios
Que nascem desses céus familiares
E vem habitar esses estranhos infernos
Um mistério tão grande de pisar a terra
E de andar perdido sobre a terra
E deitar finalmente na terra
E morrer e viver essas vãs incertezas
Que tudo me conta num sussurro
Como numa brisa suave na madrugada
Que existir é só tudo isso que nos dói
Toco o fogo que arde da poesia
E me firo desses lirismos desencontrados
Queimo o olhar para a beleza perdida das coisas
As palavras moram dentro da gente
Fora da gente tudo é só imaginação
Sonhos e devaneios, vôos, tudo ilusão
Roubo a centelha de um fogo divino
De um fogo imenso e tão mais intenso
Que queima o silêncio de que nasce a poesia
Que me angustia por estar vivo impunemente
Não há em mim nenhum medo desse fogo
Nem da morte certa e da vida incerta
Nem das horas arredias que me arrastam
Nem do fogo do tempo que me devora
Bem e Mal andam de mãos dadas
Brincam nos acesos e nos apagados dentro de nós
E precisam um do outro, equilibram-se
Equivalem-se e dançam afoitos
Na linha tênue que separa o sim e o não
É natural tudo ser sobrenatural
E tudo ser tão ao contrário
Do que se vê, do que se pensa e sente
Do que nem se imagina
Não nascemos, não morremos
Aqui estamos mortos e viveremos
Somente depois que nos formos
Há só essa vida, não outra
Há só essa porque assim o quis
Porque fiz dessa a pretendida
A preferida, a muito mais vivida
E é nessa lida que tento ser feliz
Gota d’água, de vinho, de sangue
De suor, de fel e de lágrimas
Gota a gota esvaindo-se mansamente
Cada gota de vida, seus momentos
E a cada instante viver intensamente
De cada gota perdida o seu pressentimento
Os monstros soltam-se às vezes
Brotam da terra ou da mente
Escapam de suas correntes
Os fantasmas passeiam minha sala
As dores deitam-se e se levantam comigo
Enquanto a angústia vela-me o sono
Na angústia de sonhos em noites eternas
Quando de pernas pro ar em meu quarto
Num alarido dançam a morte e a vida
Cantando que não é hoje o dia...
Toco de súbito o fogo do amor
Que me toca e consome sem eu perceber
Sem saber no que o fogo me transforma
Ao me devolver este outro já refeito
Sem qualquer juízo muito perfeito
Sobre o que é o fogo, o amor, fogo de dor
Que se equilibram e se equivalem
E brincam nos apagados e nos acesos
Com essa centelha infinita dentro de nós
Prelúdio derradeiro do fogo primeiro
Primeira dor do amor fogo verdadeiro
Que arde eterno e me consome
E sempre me devolve inteiro