Transformando desamor em literatura (2)
“Quando te vi amei-te já muito antes:
Tornei a achar-te quando te encontrei.”
(Fernando Pessoa)
Há exatamente um mês, eu te vi pela primeira vez. Pouco tempo, pela profundidade do sentimento que tenho por você. Tempo demais, pela força do desejo que tenho de te reencontrar. A saudade retarda o relógio.
Apesar da distância, sinto-me muito confortado em falar com você todos os dias. Me faz muito bem ouvir a cada ligação “eu te amo”, com um tom de voz ao mesmo tempo suave e penetrante. Inesquecível. Desejável cada vez mais.
Você é a maior prova de que não sou dono do meu coração. Claro que não “escolheria” alguém que mora tão longe. Provavelmente também não escolhesse, se pudesse, alguém com tanta diferença de idade. Mas a gente não escolhe não... A gente só consegue sentir.
Você me “acaricia” de uma forma que nunca senti antes. Se nunca senti e é sentimento, não dá pra explicar. Não consigo inventar palavras pra isso. Posso apenas corresponder e retribuir.
Quando a gente ama, fica bobo mesmo, não tem jeito. Bobeiras passam a ser coisas importantes. E outras coisas, que antes eram importantes, ficam em segundo plano. Só a pessoa amada interessa.
Ando com o coração apertado. O amor apronta uma bagunça danada dentro da gente. Esperei a resposta do torpedo... esperei a resposta do e-mail... esperei que você retornasse a chamada perdida... Demorei pra pegar no sono, na esperança... Tive um sono leve a noite toda, querendo despertar caso algum torpedo chegasse... Até que amanheceu e nenhum sinal.
Ao longo das experiências dolorosas que já passei até hoje, aprendi que quando a gente se manifesta (com e-mail, torpedo, ligação) e não recebe resposta, muito provavelmente a resposta veio e a gente não percebeu: o silêncio. O “nada” também é uma resposta.
Então esperei. Tomei o melhor remédio para estas situações: a paciência. Respeitei o seu silêncio, o seu momento, a sua circunstância. Por amor, a gente cede, a gente muda, a gente se submete. Por amor, a gente sofre feliz. Mas como já escrevi, “feliz de quem sofre por amor”. De fato, amar é um privilégio.
Porém, me dá medo. Medo bobo, eu sei, mas dá. Por não querer perder o que nem sei ao certo se é de fato meu. Ou estragar tudo por pouca coisa.
Além disso, quando a gente ama, cai facinho no ridículo, na idiotice e na inconveniência. Quando a gente ama muito torna-se incapaz de pensar, justamente por pensar demais na pessoa amada. Torna-se incapaz de escolher, decidir, julgar, discernir.
A gente consegue só seguir os rumos iluminados pelo coração. O amor vira então a única lanterna em meio a todo o resto – a escuridão.
“Amo como o amor ama.
Não sei razão pra amar-te mais que amar-te.
Que queres que te diga mais que te amo,
Se o que quero dizer-te é que te amo?”
(Fernando Pessoa)
(Rio Preto, escrito em 28/12/2010, adaptado em 13/01)