DOSES DE VENENO
Todos os dias é a mesma coisa.
Dentro de mim, um sinistro sentimento se exalta.
É a luz que de mim se afasta.
É de mim que as dores se fartam.
Procuro não reparar nos olhos da fera.
Contudo, em meros devaneios, deixo-me ferir pelos lábios do ego que, na vastidão dessa árdua caminhada faz ecoar, sem lástima, os meus gemidos.
Colho as lágrimas que caem, para regar o jardim tristonho da minha agonia.
A noite se apresenta e me alerta ao luar.
Noite linda que cobre com o ébano da solidão, o vulto esguio que, em passos indecisos, afasta-se desconsolado e entregue ao léu.
Porém, sinto a sua presença em meu coração, o qual se espreita à procura de uma sístole e diástole menos desconcertada dos meus sentidos.
Fito os meus olhos, já embaçados, no sorriso refletido em sua fotografia...fria!
Vasculho a minha mente, já demente, por lembranças de um amor que um dia florescera às margens de um farto rio de sentimentos profundos, onde os raios do sol e do luar, fora testemunhas de dois lábios a sorrir na jura de um infindo amor. Mas, é tarde. Tarde demais!
Induzido, então, pelo sono eterno, encerro os meus olhos e me extermino nesse quarto frígido, nesse corpo gélido e sem chances alguma de lhe dizer adeus.
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Giovanni Pelluzzi
São João Del Rei, 30 de janeiro de 2011.