Eu não vejo nada. Não vejo, nada vejo
Sinto tua falta, essas noites, essas ruas
E a falta que me fazes não faz bem
Eu a trago aos goles largos e fartos
Essa tristeza de não ter aquele beijo
E não desejo que voltes, quero que vivas
E que andes por outras ruas essas noites
Mentira! Tudo não passa de besteira minha
Eu te quero agora, eu te quero para mim
E te quero demais. Eu sei que é demais querer
Então vá a tempo de eu aprender a esquecer
E me deixa aqui perdido no meio dos rascunhos
do que tudo aquilo ainda poderia vir a ser
Que eu vou me apoderando das palavras
perdidas, jogadas, desperdiçadas, não ditas
essa maldita coleção de palavras recolhidas
na escuridão e na tristeza que tem o silêncio
quando afunda no imenso lixo dos momentos
E eu jogo tudo fora de novo, nada de novo
as palavras, os sonhos, os desejos, as falas
os poemas que vem sem aviso sem que eu queira
e as lembranças que não servirão nunca mais
para nada mais enfeitar, a vida de outrora
ou a felicidade de ainda agora, ali ontem
nem para pintar o preto e branco dessa hora
em que tudo é tempo que passa e amor
um amor de partida que só sabe ir embora
E que esperança eu tenho que não creio
Alguma e nenhuma, nenhuma, alguma
Então vá e sê feliz ao menos sem mim
sem minhas súplicas e os meus lamentos
sem essa pena que inspiro por vezes, à toa
Sem esses meus tormentos e dignos sentimentos
tão comuns e próprios de quem sabe seguir sozinho
de quem morre aos poucos mas antes vive um pouquinho
Que por essas noites, por essas ruas, eu ando sozinho
eu bebo sozinho, vivo sozinho, sinto e sei tudo, sozinho
eu me viro sozinho e reviro a vida de pernas pro ar
para estar ainda aqui e olhar lá adiante, ninguém...
E sempre volto sozinho para onde só eu fico
onde eu fico só e onde agora estou e ainda sou
e não sou e nem sei ou não sei se ainda quero ser
E se te penso, repentinamente, logo desisto
E te penso linda e tão minha ainda onde anda
sem saber onde anda e se tenho ainda
Desisto logo do que tenho e do que ainda quero
do que não mereço ter e que não posso mais querer
Desisto até do que não tenho, do que ainda nem sou
desisto sempre de ir aonde eu nunca vou
E sei, sempre sei, a emoção desse voo é de me atirar
de me deixar devorar pela gula impiedosa do abismo
E cismo com a tua presença, num insano devaneio
de um surto espontâneo da imaginação, na constatação
de que tudo o que agora eu tenho é só a tua ausência
E, mesmo assim ausente, és tão linda, mais que a manhã
mais linda do que posso ainda imaginar nesse sonho
que mal começa e acaba e não é mais antes de começar
que nem me convence da espera, da tão tola esperança
Não te vejo ainda, não te vejo voltar, nem sorrir, sentir
Não te vejo habitar o ermo deste sonho doido de amor
que tenho que sonhar e que sonhar me dói tanto ainda...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 29/01/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2759653
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