Retina oculta
Ontem resolvi ver algumas fotos antigas,
que estavam guardadas em meu armário
numa caixa que a muito tempo não abria;
Pra surpresa peguei fotos em branco!
Comecei a folhá-las e todas estavam vazias;
Como meu passado que passou em vão
sem nada para registrar,
como aquelas fotos de papeis já amarelados.
Como lembrar ou recordar algo que não existiu
tanto tempo passou em vão que nem lembro as lembranças
que pecado horrível cometi a mim.
Por que tanto tempo vazio?
Sem sorrisos, sem amores, sem filhos...
O tempo tornou-me seu refém e fui engolido por ele
sinto-me perdido, sem tempo para resgatar,
mas resgatar o que se o próprio encarregou-se de deixá-lo vazio.
Como uma ampulheta tentando trabalhar sem gravidade
que não sai do lugar mas envelhece a areia,
a cada minuto perdido.
Coitada das minhas fotos nulas, um click com flash ao vazio
som mudo desgastado pelo passar passado.
Lembranças de um coma, que comeu minha memória.
Caixinha de fotos que guardou nada!
Tão idolatrada na lembrança que se esvazia ao abrir.
Pó morto, ensolarado pelo mofo local que abriga fungos inertes,
esperando o tempo acabar, como se isso fosse possível,
tentas acabar algo que não tem fim, mas tudo tem fim.
Mesmo que agora comesse a tirar fotos para na prosperidade
ter o que lembrar e o que poder contar através delas
com amores afins, lembranças sutis
de uma loucura qualquer
que seja bem registrada
pelo menos na retina oculta.