Cotidiano

Madrugada ainda, solitário,

O homem embarca as tralhas

E, pés descalços na areia fria,

Lança o frágil casco encardido

De encontro às ondas mansas

Quebrantadas no baixa-mar.

Num salto incerto, de través,

Assume, solene, o comando

E, remo nas mãos calosas,

Arroja a carena azul e branca

No rumo preciso da estrela sul,

Ainda acesa no róseo celeste.

Manhã chegada, vistos da praia,

Barco e barqueiro, tão distantes,

São respingos no horizonte,

Cumprindo a lida cotidiana

Da fatigante pesca solitária,

Seu parco sustento, até a morte.

Luiz Vila Flor
Enviado por Luiz Vila Flor em 29/01/2011
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