Cotidiano
Madrugada ainda, solitário,
O homem embarca as tralhas
E, pés descalços na areia fria,
Lança o frágil casco encardido
De encontro às ondas mansas
Quebrantadas no baixa-mar.
Num salto incerto, de través,
Assume, solene, o comando
E, remo nas mãos calosas,
Arroja a carena azul e branca
No rumo preciso da estrela sul,
Ainda acesa no róseo celeste.
Manhã chegada, vistos da praia,
Barco e barqueiro, tão distantes,
São respingos no horizonte,
Cumprindo a lida cotidiana
Da fatigante pesca solitária,
Seu parco sustento, até a morte.