O Manfarrico e o Corvo

Vez por outra eu parava

Frente a uma bela livraria

E observava, encantado,

Através dos vidros limpos,

Aquelas estantes coloridas,

Todas abarrotadas de saber.

Mas, tímido, não entrava;

Temia que minhas chinelas,

Tronchas e empoeiradas,

Maculassem aquele chão,

Tão cândido, tão limpinho,

Pisado por sapatos elegantes.

Certa vez, quando lá cheguei,

Era uma terça-feira chuvosa,

Ao olhar as cobiçadas estantes

Vi um sujeito todo empoado,

Com seu olhar cavo e rutilante,

Consultando, ligeiro, os títulos.

Sob um dos braços, observei,

Trazia um exemplar novinho

De “O Poder das Idéias”,

O segundo escrito pelo Corvo.

Pensei: até mesmo o diabo

Precisa de alguma inspiração.

Luiz Vila Flor
Enviado por Luiz Vila Flor em 28/01/2011
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