INQUIETUDE REVELADORA
Nos últimos dias minha alma tem estado inquieta. Não penso, não sinto, não faço nada sem a presença desta incômoda inquietez. Ela não me tem abandonado facilmente, só nas horas de sono e de estudo da Palavra de Deus. E mesmo nos momentos silenciosos que tenho comigo mesmo, sinto o toque desconcertante deste vírus que rói meu coração e corrói-me a carne por dentro e por fora – como um verme dos mais vorazes e famintos.
Observo o crepúsculo dos dias pra ver se com o Sol, este vírus vai-se embora. E de nada vale tal esforço. Então observo o vai e vem das ondas do mar pra ver se numa dessas idas, o maldito verme vai banhar-se e por lá fica afogado, deixando-me na minha antiga paz. Mas isso não acontece, não acontece. Por isso, resignei-me momentaneamente e decidi que não é hora de lutar contra o vírus que me consome as forças e ocupa minhas horas, mas sim de descobrir as lições que ele quer me ensinar ou que desta inquietez eu posso tirar.
E, das pontadas doloridas que tenho sentido em meu corpo, brota-me a certeza de que é preciso viver cada dia como se fosse o último, fazendo o certo que deve ser feito e desfazendo o errado que fizemos querendo ou não. Isso porque as consequências do que fizermos ecoarão por um longo ou curto espaço de tempo nas vidas daqueles que nos rodearam em vida.
Também abre-se em minha mente a visão de que nada que fizermos aqui com nossas mãos poderá nos livrar das investidas do acaso ou das ações de outrem, e, por isso, nunca devemos pensar e dizer que temos o completo controle sobre nossa existência! E de fato não temos. Hoje sei disso, pois se pudesse tirar este vírus de mim eu o faria. Mas não posso.
Tenho aprendido também que a dor configura-se como um mal no presente mas que, a muitos, torna-se em um bem posteriormente - pois há quem saiba que o caminho certo está bem à sua frente e acaba preferindo ir pelo caminho errado dizendo-se dono de sua própria vida. Então a dor entra como limitador do arbítrio imperfeito dessas pessoas e as impulsiona ao caminho certo – o qual vai dar num lugar seguro, cheio de paz, tranquilidade e equilíbrio.
É isso que tenho aprendido com o vírus que corrói-me o ser. Se pudesse o faria parar de roer-me, mas não posso. E o faria parar para não conhecer mais de mim mesmo, como sou realmente, pois, prostrado como tenho estado, descubro minha verdadeira face, meu verdadeiro eu, o alcance de meus olhos e os limites de minhas forças. Reconheço-me frágil embora audacioso, ignorante embora soberbo. Aprendo meu valor como criatura e minha pequenez como ser criado. E impotente observo e aprendo tudo isso, surpreendendo-me de instante a instante com tudo o que eu sabia ser o certo mas é o errado, e com tudo o que eu pensava não existir e é a mais pura realidade. Não tendo muito o que fazer, apenas contemplo, aprendo, rezo e oro. E o que mais há pra se fazer?