Eu preparava um poema para amanhã. Mas no amanhã incerto, o poema se fará prosa e deitará na letra os inconcebíveis e inaceitáveis “se isto” ou “se aquilo”.
Amanhã, poderei dizer que há exatamente um ano eu tinha mãe e namorada. Duas mulheres em minha vida, amadas por mim, cada qual a seu tempo e na sua medida, cada qual a seu modo.
Minha mãe morreu. A namorada se foi. Ficou pequena a minha já diminuta lista de mulheres amadas.
Mamãe não voltará nunca mais. Porque não pode vencer o inconcebível e tornar possível o absurdo do sobrenatural. As conversas que teríamos no tempo do depois, as coisas que eu contaria a ela, as coisas que fossem acontecendo, isso tudo simplesmente não existe mais. O tempo não ajuda nesse sentido. Aliás, a seta do tempo tem um só sentido real, sempre para frente. A gente não consegue entender essa simples percepção. As coisas são e o que ainda não é, não é. O que não é mais, não é também. Seria bom se tivéssemos lembranças do futuro e do passado somente esquecimentos. Aí tudo seria só presente. E a sensação do tempo perdido não faria nenhum sentido.
Não costumo dizer que as pessoas morrem. Digo que as pessoas acabam.
Eu não tenho problema algum em aceitar o caráter irrecorrível da morte.
Então o absurdo dessa reflexão fica mais ou menos assim. Mamãe não voltará nunca mais porque não pode. A namorada também não voltará. Porque não quer.
Uma mulher amada que não pode voltar. Outra mulher amada que não quer voltar. Quisera imaginar que ela não sabe que pode e por isso não volta. Ou que não sabe que quer, então precisa descobrir.
Só que aí não sei o que fazer. Esperar é um tormento. Aceitar é quase que uma imposição para a vida continuar fazendo sentido. Eu tenho que me saber vivo porque escolho isso, a despeito de tudo a minha volta, das escolhas alheias que me afetam exatamente por não serem as minhas.
Falando em morte, sobre coisas que vivem e morrem, pensando na impermanência de tudo, se na vida estamos acostumados com o perecimento dos seres e das coisas, eu me pergunto se nos acostumamos assim também em relação ao amor. Afinal, o amor também morre? E depois do amor há amor? Se houver, qual foi maior ou o verdadeiro? Que raio de coisa sem sentido é essa do amor? Não sei, não sei, não sei.
Talvez não pense nisso tanto assim. Ou deva reconhecer que pense até demais. A vida, o amor, a morte, tudo no caldeirão do tempo, cozinhando. A vida, o amor, a morte, tudo a mercê do tempo, inescapável dele.
Essa lembrança é pontual. Um fato de um ano atrás, exatamente. O que me dá medo de pensar em um ano para frente, um ano ou mais, dois, cinco, dez.
Talvez eu escreva um poema para amanhã. Talvez não. Talvez haja um amanhã. Ou quem sabe somente o hoje é que verdadeiramente importa.
Talvez eu escreva um poema para amanhã. E talvez o escreva para lamentar ainda a falta tão grande que faz agora um amanhã.
Amanhã, poderei dizer que há exatamente um ano eu tinha mãe e namorada. Duas mulheres em minha vida, amadas por mim, cada qual a seu tempo e na sua medida, cada qual a seu modo.
Minha mãe morreu. A namorada se foi. Ficou pequena a minha já diminuta lista de mulheres amadas.
Mamãe não voltará nunca mais. Porque não pode vencer o inconcebível e tornar possível o absurdo do sobrenatural. As conversas que teríamos no tempo do depois, as coisas que eu contaria a ela, as coisas que fossem acontecendo, isso tudo simplesmente não existe mais. O tempo não ajuda nesse sentido. Aliás, a seta do tempo tem um só sentido real, sempre para frente. A gente não consegue entender essa simples percepção. As coisas são e o que ainda não é, não é. O que não é mais, não é também. Seria bom se tivéssemos lembranças do futuro e do passado somente esquecimentos. Aí tudo seria só presente. E a sensação do tempo perdido não faria nenhum sentido.
Não costumo dizer que as pessoas morrem. Digo que as pessoas acabam.
Eu não tenho problema algum em aceitar o caráter irrecorrível da morte.
Então o absurdo dessa reflexão fica mais ou menos assim. Mamãe não voltará nunca mais porque não pode. A namorada também não voltará. Porque não quer.
Uma mulher amada que não pode voltar. Outra mulher amada que não quer voltar. Quisera imaginar que ela não sabe que pode e por isso não volta. Ou que não sabe que quer, então precisa descobrir.
Só que aí não sei o que fazer. Esperar é um tormento. Aceitar é quase que uma imposição para a vida continuar fazendo sentido. Eu tenho que me saber vivo porque escolho isso, a despeito de tudo a minha volta, das escolhas alheias que me afetam exatamente por não serem as minhas.
Falando em morte, sobre coisas que vivem e morrem, pensando na impermanência de tudo, se na vida estamos acostumados com o perecimento dos seres e das coisas, eu me pergunto se nos acostumamos assim também em relação ao amor. Afinal, o amor também morre? E depois do amor há amor? Se houver, qual foi maior ou o verdadeiro? Que raio de coisa sem sentido é essa do amor? Não sei, não sei, não sei.
Talvez não pense nisso tanto assim. Ou deva reconhecer que pense até demais. A vida, o amor, a morte, tudo no caldeirão do tempo, cozinhando. A vida, o amor, a morte, tudo a mercê do tempo, inescapável dele.
Essa lembrança é pontual. Um fato de um ano atrás, exatamente. O que me dá medo de pensar em um ano para frente, um ano ou mais, dois, cinco, dez.
Talvez eu escreva um poema para amanhã. Talvez não. Talvez haja um amanhã. Ou quem sabe somente o hoje é que verdadeiramente importa.
Talvez eu escreva um poema para amanhã. E talvez o escreva para lamentar ainda a falta tão grande que faz agora um amanhã.