Parque das ilusões
Aquela menina tão jovem, naquele parque tão lindo
onde homens deixam seus carros para os “chapas” os lavarem
enquanto fazem Cooper.
Tão jovem e já trabalha com sua bolsinha vermelha
combinando com o batom e a minissaia.
Usando meias arrastão em pernas tão frágeis
sustentadas em altos saltos, dando-lhe a ilusão de imponência.
Na praça tão linda,
desde cedo até a madrugada,
independe da hora que passo, ela esta lá...
com seu cigarro entre os dedos,
tratando de negócios com seus clientes.
Mesmo com chuva, lá ficam: ela e sua sombrinha.
ambas encharcadas com o vento molhado e frio.
Precisa de seus clientes e faz qualquer coisa
se pagarem bem o seu valor.
Passaram-se alguns anos.
Vejo que esta envelhecida...
pelo tempo, pelo tóxico, pela bebida e pelas noitadas com seus amantes
que a corroeram, deixando-a acabada e feia.
Seus clientes diminuíram muito...
Outras beldades disputam seu espaço.
Mesmo assim, continua lá com um casaco surrado e velho.
Por falta de trabalho, a chuva continua a encharcá-las: sombrinha e sua dona.
Começou a voltar pra casa sem dinheiro.
Seus três filhos de pais diferentes, já não são alimentados.
Na praça tão linda, os clientes se foram...
Não querem mais aquela que ficou gorda, feia e desdentada.
Vez que outra, passo por lá e a vejo com outro tipo de cliente.
Agora, a velha prostituta apenas lava os carros desses sujeitos,
por um preço bem inferior aos dos “chapas”.
Até que lava bem, passa silicone nos pneus, jornal nos vidros...
Trabalho perfeito.
Como o que fazia com os clientes de outrora.
Os filhos dispersaram-se...
Uma, já segue a carreira da mãe.
A outra virou “camelo” de traficante e sumiu...
O filho está no presídio central.
Despejada de sua maloca,
vive em baixo do elevado que existe em frente à praça,
entre papelões, jornais úmidos e insanidade mental.
Passo e vejo aquela mulher amargurar lembranças de seu passado tão promiscuo...
Vejo-a tão só, arruma papelões como se esperasse visitas
varre o chão, conversa sozinha com olhares de vigília.
Imagino que lembranças lhe passam na cabeça...
Ao deitar-se entre jornais velhos, com frio, fome e só.
É uma pessoa como tantas outras com sentimentos
Infelizmente, vítimas esquecidas e engolidas em bueiros.