Afogada

Os diminutivos soam falsos

Percorrem as veias

Como lodo que congela entranhas

Caminha para onde tudo morre,

Onde a historia finda.

E sob o morno conforto de lágrimas

Um afogamento,

Um sufocamento.

Num mergulho

Onde o abandono suprime a dor

Largo-me à busca

Daquela que se perdeu,

Congelou-se em glacial.

Alcanço sua mão

e quase

num sussurro o carinho,

palavras grandes e fortes,

Sem diminutivos

Perdão, amor, paixão…

E outras tantas,

E tantas forem necessárias

Para trazer-lhe a tona,

Para rever aquela em que há luz,

Triste viajante de estrelas,

Frágil jardineira de cores.

Tecerei suas asas poídas,

Alimentarei seus sonhos,

Limparei sua casa,

Colocarei flores nas varandas,

Inventarei perfumes

e o que for necessário.

E quando, enfim, emergir

Não estará pronta,

E nunca estará.

Mas, ainda assim,

Estará viva.