:::Pensamento:::
Encosto o lápis no papel e o grafite vai rabiscando incansavelmente minha composição, não aquelas de músicas, mas a pauta da minha vida curta que um dia findará. E não quero pensar no fim, não quero pensar que um dia, num minuto qualquer essa canção se dissipará... As cordas do meu violão não mais irão soar e o único som existente será de um último suspiro em uma nota perfeita a perder-se no ar rarefeito. Impossível não pensar em como acontecerá, eu verei minha vida toda passando veloz em minha mente? Uma luz alva disseminará ao redor de meu corpo? Minhas memórias serão apagadas? Para onde eu vou? Por que?
Não penso em morte como algo ruim... A vida é uma preparação para a eternidade! A eternidade é muito longe daqui? Eu sentirei saudade das pessoas com quem passei minha vida? São tantas perguntas que só serão respondidas quando a música parar... Eu sinceramente desejo que a minha toque por muitos e muitos anos, que embale valsas com quem amo, que me permita gritar pensando estar cantando... Errar a letra é inevitável... Cantar errado sabendo o correto é opção... Dedicar-se á aprender uma nova canção é sempre bom... Tentar cantarolar uma outra língua também... A vida está aí, como uma grande orquestra esperando ser vivida, sentida, ouvida... Esperando se cantada em todos os tons possíveis...
Eu não quero fechar as malas e me arrepender de não ter tentado cantar... Viver é como uma canção.... Com tons altos e baixos, notas fáceis e outras complicadas... Todo mundo sabe cantar, mas apenas alguns realmente se importam...
Sempre pensei em uma carta de despedida, o quão dolorosa deve ser, mas se tivesse que escrever uma, seria exatamente assim:
“Como apagar a saudade quando amamos intensamente? Levo a saudade nas malas, levo sorrisos e olhares, abraços e palavras soltas ao vento, e a certeza de que morrer não dói (como Cazuza dizia)... Encontro vocês aos braços da lua. O amor não finda, multiplica-se no horizonte! E quando pensarem em chorar, leiam-me e verão como fui feliz, amei e permiti que a poesia me ensinasse a viver, E de tudo que deixo, o que mais fico alegre é de ter deixado o que fui, o que senti, o que fiz, quem amei, escrito ... Escrevi porque vivi...E isso bastou!”
Ana Luísa Ricardo