Jupira
Junho de 2002. Irá, cidade no norte do RS. Feriadão com determinação para “desacelerar”. Excelente companhia ao meu lado. Hotel no centro da cidade e poucas opções de lazer.
Numa tarde, rumamos para a Colônia Indígena dos Índios Caingangues. Foi lá que conheci Jupira, uma linda indiazinha com olhos amendoados que mais pareciam duas bolitas. Olhamo-nos com curiosidade e, depois de algumas investidas, conseguimos que ela esboçasse um tímido sorriso.
Seus cabelos estavam cuidadosamente decorados com lindas miçangas coloridas e, para arrematá-las, pequenas trancinhas, que davam um toque especial à “obra de arte”.
Jupira tinha o olhar triste; mas ao mesmo tempo curioso, investigador.
Conduziu-nos ao chefe da tribo para que o meu parceiro encomendasse um arco & flecha confeccionado por eles. Enquanto isto acontecia ela, sem falar coisa alguma, mostrava-me balaios coloridos de todas as formas, assim como cestos trabalhados com maestria.
Meu parceiro encomendou o seu arco & flecha (diga-se de passagem, fora de qualquer tamanho considerado normal – muito maiores do que o que eles tinham para vender) e presenteou-me com o cesto que mais gostei (que saiu das mãos de Jupira).
Os dois, Jupira e o chefe da tribo, ainda um tanto estranhos, levaram-nos até o carro e se despediram com um leve aceno de cabeça.
Dois dias depois recebemos a encomenda no Hotel trazida pelo chefe, acompanhado por Jupira. Segundo ele, ela pediu para ver-nos novamente. Alguma simbiose aconteceu naquele encontro.
Jupira tinha cheiro de mato, de terra molhada,
Uma expressão facial que nunca esqueci.
Tinha jeito de moleca,
De sapeca.
Abrigava a timidez no olhar,
Um olhar profundo,
Soturno
Que me fez respirar fundo.
Uma índia no seu mundo,
E que nele deve fazer a sua realidade
Em busca da felicidade,
A mesma felicidade que busco.
Como estará Jupira agora?
Não tenho a mínima idéia.
Só o cesto que continua ornando um dos meus ambientes.
18/01/2011