BOLHAS DE SABÃO

Volto no tempo e reencontro em meio às floridas cercas-vivas que ladeavam o reino encantado de criança, lembranças mais que felizes, tardes de colher caules de folhas de abóboras e soprar bolhas de sabão que subiam, subiam a espalharem sonhos no céu. À tardinha, ouvidos atentos ao que os adultos diziam, as pernas tremiam diante do velho casarão da esquina, onde se ouvia dizer, várias bruxas ali viviam. Araçás e goiabas que atiçavam a fome, eram cobiçados pelo sabor e mais ainda pelo pavor de pertencerem ao pomar do vizinho lobisomem. Era tanta pureza e inocência contida nos doces e ingênuos olhos, os quais vislumbravam da vida, tão somente a beleza e o motivo maior de tristeza fosse, talvez, algum pássaro de asa quebrada ou o fim da brincadeira quando a pipa pousava desajeitada nos galhos das árvores. Pipas presas para sempre no fio do viver, vez ou outra balançando-se nos ventos da memória, remexendo sonhos adormecidos.

Helena da Rosa

17.01.2010