[Lágrimas Soltadas]
Silêncio na grande sala vazia...
E eu escoo pelos acidentes
deste rosto triste, cansado...
[o que mais há sobrevir a este rosto,
quantas marcas hei de percorrer...]
Às vezes, paro nos lábios trêmulos,
deixo ali o meu sal de lembranças;
às vezes, venho com intensidade,
passo dos lábios, caio na secura do chão.
Ah, que triste é chorar sobre a secura!
Afinal, eu sou mais que um cisco
nos olhos de quem nem conheço;
sou a exsudação de feridas n'alma
de alguém que me chora assim,
copiosamente, como se tivesse amoníaco
vaporizado em seus grandes olhos úmidos...
Chora-me para os ralos da sua vida,
verte-me sobre as trilhas das perdas...
E para quem se ocupa de diferenças vãs,
sou lágrimas não soltas, mas soltadas...
[Penas do Desterro, 16 de janeiro de 2011]