Todas as formas do pranto
Todas as pessoas choram. Mas nem todas choram da mesma forma.
Conheço pessoas que choram através de mentiras. Há quem chore através de abraços.
Tem gente que chora com gritos.
Ou mesmo quem chore em silêncio.
A raiva também pode ser pranto.
(Já ouvi que, no fundo, toda raiva é triste)
A covardia.
Certas pessoas choram, e dizem que não estão chorando.
Outras, choram através de soluços e lágrimas gordas que riscam-lhes a face.
Outras apenas dizem que choram e, assim, elas choram.
Choro em forma de briga.
Tem gente que chora através de acessos de riso.
Existem prantos tristes. E nostálgicos. E emocionados. E desabafos.
Ah, angústia.
Há quem chore e sorria ao mesmo tempo.
Choro escondido. Disfarçado.
Há os discretos.
Há os escandalosos, acompanhados por gritos e vasos quebrados.
Estilhaços de alma que voam pela sala.
Os prantos de amor expressos em injúrias.
As gargalhadas choram.
Porres choram.
As pessoas às vezes choram e fingem indiferença.
Há quem chore ao amanhecer, há quem chore ao pôr-do-sol.
Ou o dia todo.
Um velho ranzinza chora através de grosserias e bengaladas.
Um executivo chora, em sua infinita seriedade, com seus ombros tensos.
Os narcisistas se olham no espelho, e se acham belos enquanto choram.
Há pessoas que choram através de um papel, uma caneta e desenhos de letras.
Tem gente que chora em quadros e tinta.
E gente que chora dormindo.
Ou que dorme para não chorar.
Tem gente que foge. Tem gente que procura.
Claro, e existe o pranto através de lágrimas...
Mas as lágrimas são apenas gotas.
Num oceano.