A VELHA BACIA

(Que lembrança é esta agora que me queima os olhos por dentro?

As brasas acesas na velha bacia a aquecerem os pés e as almas!!

Todos mortos e eu ainda aqui, com a lembrança da velha bacia

a forrar o espaço do que restou.

Por que as brasas não se apagaram quando todos se foram?

Por que sempre um detalhe tem que restar pra fazer doer?

Os olhares cúmplices a trocarem senhas,

os gestos pensados, as jogadas ensaiadas)

- De quem é a vez?

- É sempre de quem pergunta!

- Bati!!!

( Os pés se roçando, aliados e adversários, que importava?

O frio não jogava mas sabia da sua importância. Agregava.

Que poder o da memória, que ainda faz arrepiar de dentro pra fora!)

- Naquela canastra não tinha um coringa?

- Bati!! Vocês pagam o morto!!

(Em que buraco meteram-se todos?

e que jogo é este que jogo melhor de olhos fechados?)

- Fia, cê vai na cozinha, traz um café pra mãe?

- Já está embaralhado, pode cortar.

- Um, dôsh, trêsh, quatro, cinco, sêsh...

- Todas as vezes é a Leoni quem dá as cartas?

(Sim, todas as vezes é a Leoni quem dá as cartas,

até o fim dos meus dias...

Que terá sido da Leoni? Meu Deus, onde estão todos?

Só as brasas ainda acesas na velha bacia da minha alma!!