Eis-me aqui saudando o infinito
(Não tão abstratamente...)
É a manhã virar tarde e a tarde noite
E virar tudo uma mesma madrugada
E os dias se repetirem indefinidamente
E com eles a vida quase indevidamente
Essas palavras? Recolhi por aí nas esquinas
Nos olhares dos mais desvalidos, eu mesmo
Nas horas mais propícias de se cismar a esmo
Dei a elas de comer, beber e vestir, amei-as
Desde a primeira vez que um olhar para elas
Veio me dizer que seríamos assim para sempre
Eu nada sem elas e elas quase nada sem mim
E elas e eu uma mútua cumplicidade no crime
De dizer o que vai na alma e escapa do silêncio
De procurar pérolas no fundo desses mares
E flores amarelas do mais fundo dos abismos
De escancarar as janelas de todos os “ismos”
E de arrancar todas as portas para as visitas
De juntar cacos em minha casa de espelhos
Eu e elas revolvendo os medos passados
Com tanta e tamanha coragem de futuro
Com inegável desdém para com o presente
Que não pressente um próximo passo
Vai a voar veloz com o mais voraz dos ventos
E as vozes dos mortos e vivos gritam afoitos
E nunca se sabe quem se escuta ou quem fala
Se a poesia em nós ou nós com toda a poesia
Eis-me aqui adorando o mais inevitável
Morte e vida no que não é tão ponderável
Rindo desse medo que os solitários tem
Da solidão que lhes é alheia e outra
Da tristeza em que o mundo é mergulhado
Achando muito pouco a promessa mantida
De que a felicidade é a realidade da vida
Eis-me aqui de braços erguidos e ansiosos
Por mais um abraço da luz das estrelas
Meus olhos descansados de mirar horizontes
E esse medo nos olhos de tantos na escuridão
Essa recusa de um olhar para bem dentro
Onde moram seus monstros e fantasmas
(Brinco de pique com todos os monstros
E danço até cair com todos os fantasmas)
E queria muito mais dos poetas
Algo mais que essa vaidade desmedida
Mais que as palavras adagas a ferir o outro
Mais que essa cantilena de embevecimento
Que lhes destrói qualquer discernimento
Corrói os já corroídos e gastos sentimentos
“Eu sou a luz!”, dizem tanto de si mesmos
Para não explicar o motivo da escuridão
Não sobreviveriam um dia na floresta
E nem uma hora sequer no deserto
Constroem um maravilhoso céu
Com os escombros de seus infernos
Deixa quieto o poema que vem como quer
Alimenta a palavra do melhor alimento
Cria a poesia como se fosse filha tua
Tua mulher, teu homem, teu ou tua amante
Teu mais caro e raro objeto de desejo
Deixa a poesia te desejar mais que tu a ela
E arranca as portas e escancara as janelas
Para saudar o motivo de quebrar o silêncio
É isso! Queria isso dos poetas
Melhor motivo para se quebrar o silêncio
Não um motivo para desejá-lo tanto...
(Não tão abstratamente...)
É a manhã virar tarde e a tarde noite
E virar tudo uma mesma madrugada
E os dias se repetirem indefinidamente
E com eles a vida quase indevidamente
Essas palavras? Recolhi por aí nas esquinas
Nos olhares dos mais desvalidos, eu mesmo
Nas horas mais propícias de se cismar a esmo
Dei a elas de comer, beber e vestir, amei-as
Desde a primeira vez que um olhar para elas
Veio me dizer que seríamos assim para sempre
Eu nada sem elas e elas quase nada sem mim
E elas e eu uma mútua cumplicidade no crime
De dizer o que vai na alma e escapa do silêncio
De procurar pérolas no fundo desses mares
E flores amarelas do mais fundo dos abismos
De escancarar as janelas de todos os “ismos”
E de arrancar todas as portas para as visitas
De juntar cacos em minha casa de espelhos
Eu e elas revolvendo os medos passados
Com tanta e tamanha coragem de futuro
Com inegável desdém para com o presente
Que não pressente um próximo passo
Vai a voar veloz com o mais voraz dos ventos
E as vozes dos mortos e vivos gritam afoitos
E nunca se sabe quem se escuta ou quem fala
Se a poesia em nós ou nós com toda a poesia
Eis-me aqui adorando o mais inevitável
Morte e vida no que não é tão ponderável
Rindo desse medo que os solitários tem
Da solidão que lhes é alheia e outra
Da tristeza em que o mundo é mergulhado
Achando muito pouco a promessa mantida
De que a felicidade é a realidade da vida
Eis-me aqui de braços erguidos e ansiosos
Por mais um abraço da luz das estrelas
Meus olhos descansados de mirar horizontes
E esse medo nos olhos de tantos na escuridão
Essa recusa de um olhar para bem dentro
Onde moram seus monstros e fantasmas
(Brinco de pique com todos os monstros
E danço até cair com todos os fantasmas)
E queria muito mais dos poetas
Algo mais que essa vaidade desmedida
Mais que as palavras adagas a ferir o outro
Mais que essa cantilena de embevecimento
Que lhes destrói qualquer discernimento
Corrói os já corroídos e gastos sentimentos
“Eu sou a luz!”, dizem tanto de si mesmos
Para não explicar o motivo da escuridão
Não sobreviveriam um dia na floresta
E nem uma hora sequer no deserto
Constroem um maravilhoso céu
Com os escombros de seus infernos
Deixa quieto o poema que vem como quer
Alimenta a palavra do melhor alimento
Cria a poesia como se fosse filha tua
Tua mulher, teu homem, teu ou tua amante
Teu mais caro e raro objeto de desejo
Deixa a poesia te desejar mais que tu a ela
E arranca as portas e escancara as janelas
Para saudar o motivo de quebrar o silêncio
É isso! Queria isso dos poetas
Melhor motivo para se quebrar o silêncio
Não um motivo para desejá-lo tanto...