Ensaio Sobre o Tempo

Queria que o tempo coubesse em mim

E me acompanhasse como velho amigo.

Mas eu insisto em jogá-lo fora, a não seguir seus conselhos, a não aceitar seu conforto.

O problema é que o tadinho sempre volta

E me lembra: "Eu existo! Não se perca pra não me perder."

As vezes eu acho que a culpa é do tempo e que o tempo me trás culpa. Eu reclamo e o xingo, mas ao invés do sujeito ficar parado me ouvindo, ele se demanda pra frente. Ele tem uma magia, algo que eu não sei explicar, que faz com que todos os meus sentimentos mais intensos cessem quando vejo suas costas.

O que dá raiva é que o tempo é mais sabido do que eu. Ele tem planos que eu nem consigo imaginar. Se ao menos eu pudesse ver um dia a sua cara eu poderia supor o que ele anda aprontando.

Fico me perguntando se o tempo é universal ou se cada pessoa tem um tempo diferente. Eu acho a segunda opção. Eu o vejo como um anjo da guarda de cada um. Ele não dita e nem evita o curso, apenas gosta de amparar como as margens do rio, pra que a água não transborde antes do último centésimo de segundo.

E cada rio tem suas próprias margens.

Só que isso não quer dizer que eu goste dele. Se ao menos uma hora correspondesse a cinco... Se ele ao menos me dissesse o que tem acontecido no futuro, se ele não me deixasse esquecer de nenhum acontecimento da minha vida e não me desse lição de moral aí sim, eu seria grata a ele pro resto da minha vida. Esse resto que ele sabe e não me conta.

Mas eu entendo um pouco ele, só um pouquinho mesmo. É que o tempo é relativo, assim como a gente. Talvez seja por isso que eu não consiga entendê-lo por completo ainda. Talvez isso explique porque as pessoas necessitam de um tempo só delas mesmo quando existem tantas pessoas pra dividí-lo. E Talvez seja por isso que tudo muda e continua mesmo quando a gente olha pra trás querendo que o tempo volte e nos salve dele mesmo.

Íu Nunes
Enviado por Íu Nunes em 06/01/2011
Código do texto: T2712797
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