Amor: animal selvagem
Duas coisas me provocam uma inspiração tão louca a ponto de me fazer escrever sem parar: o amor e a dor.
Já escrevi antes que a paixão é persistente, é força oculta nas profundezas da alma, cavalo bravo irrefreável, animal selvagem sem cabresto. Quando me sinto apaixonado, perco o controle; dizer isso é chover no molhado mesmo.
Mas entendi, a duras penas, que mesmo no amor, tudo tem sua hora para acontecer. Não adianta temer, forçar, fugir, querer mudar. Amor é amor e ponto. Se acontece, não tem remédio, não tem cura. O único caminho é vivê-lo, tão intensamente quanto se pode.
Porque se tentar mudar o amor, pode-se pôr tudo a perder. Amor é ao mesmo tempo, frágil e indomável. Num instante pode se transformar em dor. E no mesmo instante, sair a galope sem que ninguém o segure.
Animal selvagem mesmo. Mas já vi muito animal selvagem domado. Se desde o início, a ferinha é bem tratada, ensinada, domesticada, torna-se dócil, um animal de estimação. Só que é preciso muito esforço do domador.
Ainda assim, já vimos muitos casos do animal domado atacar o seu instrutor. Portanto, não tem jeito. Domando ou não, esse ser incontrolável, algumas vezes pacato, outras arisco, vai algum dia colocar suas garras de fora.
Afinal, todo amor tem seus rugidos e gemidos...
(Rio Preto, 27/12/2010 adaptado em 06/01)