NENHUMA FLORZINHA SEQUER

Ganhei um pé de lírio e logo lhe dediquei toda atenção. No início tudo ia às mil maravilhas: novas folhas surgiram, verdinhas, brilhosas; demonstrava estar saudável e satisfeita... Mas apesar de todo cuidado, não tive o privilégio de encontrar uma florzinha sequer.

Pedi informação, e vi que tinha que ter paciência. Um ano se passou, e nada. Fui ficando chateada, e a única maneira de extravasar meu descontentamento era dizendo em alta voz o que achava daquilo tudo. Pus-me a reclamar: ‘Você é preguiçosa’. ‘ Mal agradecida’. ‘Estou lhe dando do bom e do melhor e você nem dá bola pra mim. ’ ‘ Você é muito folgada.’ ’ Daqui uns dias lhe ponho pra fora de casa e você vai encontrar o tratamento digno pra uma rainha.’

Ela nada me dizia, e nada me oferecia. Também, como seria possível se não tinha voz?Era apenas uma planta. Mas eu insistia na minha pirraça. Nenhuma resposta. Apenas recebi um ‘outro sinal’: constatei que a planta começava a amarelar.

‘E essa agora! Depois de tudo que eu fiz, ela agora resolve morrer!’ Certo dia desabafara com meu marido que confortavelmente assistia ao noticiário. Ele, nem me deu bola. Tive que suportar minha matraca ou então compartilhar com a ‘digníssima planta’. Foi o que fiz.

No dia seguinte, vendo que eu estava muito atarefada, meu marido ‘prestativo’, escolhe o terraço para limpar. Vendo que ele não havia levado o balde resolvi minimizar o deslize levando o instrumento que facilitaria seu serviço, e para minha surpresa descobri o por que de meu amado terminar as tarefas com tanta rapidez e a pior de todas, o por que da minha plantinha NUNCA HAVER ME DADO UMA FLORZINHA SEQUER. Meu ‘grande auxiliador’ passava o pano embebido numa mistura de água com água sanitária no chão e quando o pano estava encharcado espremia-o bem em cima da minha plantinha!

-Ah, coitadinha! Quão injusta que eu fui.

Quando meu amado ouviu minha voz, imediatamente endireitou o corpo que estava meio curvado e na maior inocência do mundo, respondeu ao meu olhar de indignação:

- Querida, a água está fraquinha. Não tem perigo, não...Pronto, já fechou a cara!

Saí marchando desejosa de espremer o primeiro pescoço que encontrasse pela frente, e ainda pude escutar o resmungo de quem não estava entendendo nada e nem tendo noção do que acabara de fazer.

- Mulher tem cada chilique. E eu aqui me esforçando para ajudá-la e ela em vez de agradecer, fica desse jeito. Sei não...

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 05/01/2011
Código do texto: T2711547
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