Ano Novo
Praia. Ondas sagazes e deliciosas me massageavam as costas, o corpo, a cabeça. O seio o golfo. A cabeça como o casco de um velho navio incendiado até a quina a última cinza se esfumaçando nos fogos o céu. Minh'alma corais atol-ada de cardumes viventes e memórias em florescidas enfurecidas. Era puxada pelos cabelos e minha loucura arrastada para o fundo. O corpo como um entornar de alma da taça de vinho caindo girando nu redemoinho de luzes do sol na luminaria candente sobre toda gente que habita em mim mergulhando em meus abismos. Eu me abismo.- uma espécie de hálito que vinho tinto e ria. Vinha me buscar de mim os temores, os assombramentos, altos e baixos, as incertezas, espantos para que eu pudesse apreender o velho, e sobre o viver nascer quando voltasse à superfície, - porque eu sou muito superficial. Agónica e de vazio pleno. A vida à tona com todo fôlego mais de muitas outras ondas vezes. Eu ânsia de ondas algas meus pulmões. Plural pulsação. Salgava-me a vida ardendo feridas. A lua sorria doce, discreta e maliciosamante sobre o debrum das águas me pervertida de tal matéria chamada amor. Eu caco areia pedra escama e seio da praia me aconchegava de ser do mar. Eu era o mar no fundo e era o fundo do mar em seu tremor e silêncio alucinante com todas as fluorescência e escuridades. Era no vento. Num mergulho eu centrifugava a ondina. Lamparina tangendo e tingindo corpo casa em vertigem. Guirlanda pêndulo no espaço. Eu dança de pipa e o voo do tempo. Crianca correndo litoral. Rede de pescador. Barco aportando o anoitecer. Brisa na boca. Lua em flor. Cavo-abismo, ventre parindo um oceano, vida água, maresia o olhar, morte estrela-viva, sol baratinado dentro da lágrima, sal, sozinha, brisa, friagem, mais sol, mais vida, algas sendo-me, areia amaciando os passos, noite descendo em passos lentos a escadaria das estrelas, dia se abrindo como um abraço de asas e horizonte colorido.
Bom dia e ano novo pra você também!