Às portas do paraíso.

E como no livro, encontrei-me desajeitada, fazendo uso de palavras desequilibradas e aflitas para desvendar-lhe meu coração.

A escrita nasce com clareza, suavidade e firmeza em cada palavra,

porém, não imaginei que a fala fosse mudar tanto tais características, por mais que se tratasse dos mesmos sentimentos.

A garganta seca.

A voz emudece.

O corpo rapidamente se congela numa mesma posição, um tanto desconfortável.

As palavras - aquelas, poucas - saem da boca em pequenos intervalos de suspiros e tímidos sorrisos.

Há o que dizer, mas não se sabe como. Sabe-se - mas não consegue.

De repente, toda clareza transmitida pela escrita torna-se um mistério quando o sentimento passa a ser dito.

Engano meu.

Esse doce desequilíbrio nas palavras, o "meio dizer", sentimentos tentando escapulir da melhor maneira possível, mas que sempre saem cambaleando, procurando o chão para sustentar-se - essa é a forma mais clara existente para expressar o amor.

E foi assim, em meio a palavras desajeitadas, que eu o abracei naquela noite especial.

O calor de seu corpo junto ao meu era o suficiente para proteger-me do frio, do medo, da angústia - sentimentos esses que foram embora instantaneamente naquele momento.

Restaram apenas nossos corpos emaranhados, nossa respiração falando ao silêncio e uma única certeza: nós nos amávamos.

O medo de dizer isso não existia mais.

Fernanda Gouveia
Enviado por Fernanda Gouveia em 04/01/2011
Código do texto: T2709121