Às portas do paraíso.
E como no livro, encontrei-me desajeitada, fazendo uso de palavras desequilibradas e aflitas para desvendar-lhe meu coração.
A escrita nasce com clareza, suavidade e firmeza em cada palavra,
porém, não imaginei que a fala fosse mudar tanto tais características, por mais que se tratasse dos mesmos sentimentos.
A garganta seca.
A voz emudece.
O corpo rapidamente se congela numa mesma posição, um tanto desconfortável.
As palavras - aquelas, poucas - saem da boca em pequenos intervalos de suspiros e tímidos sorrisos.
Há o que dizer, mas não se sabe como. Sabe-se - mas não consegue.
De repente, toda clareza transmitida pela escrita torna-se um mistério quando o sentimento passa a ser dito.
Engano meu.
Esse doce desequilíbrio nas palavras, o "meio dizer", sentimentos tentando escapulir da melhor maneira possível, mas que sempre saem cambaleando, procurando o chão para sustentar-se - essa é a forma mais clara existente para expressar o amor.
E foi assim, em meio a palavras desajeitadas, que eu o abracei naquela noite especial.
O calor de seu corpo junto ao meu era o suficiente para proteger-me do frio, do medo, da angústia - sentimentos esses que foram embora instantaneamente naquele momento.
Restaram apenas nossos corpos emaranhados, nossa respiração falando ao silêncio e uma única certeza: nós nos amávamos.
O medo de dizer isso não existia mais.