O que tinha de ser havia de ser assim
De absolutamente eu não ter medo
Nem da morte que vinha e nem da vida que vai
Nem da solidão e nem da tristeza, ou essa dor
Do que eu ainda nem sei e nem do que vem
Do que se perde de repente ou do que não se tem
Do que não se possui, do que se dilui, do que sou e fui
Nenhum medo de ser e nem de não ser, que fazer?
Ou talvez do que querem que eu queira mais do que eu
O que havia de ser tinha de ser assim
Esse suposto e aparente descaso que sempre tenho
Com tudo que é tão complicado nas coisas mais simples
Um fiel apego à simplicidade das coisas mais complicadas
Como da palavra que vai e da palavra que vem
Da poesia indomada que simplesmente me sai
Com esse esmero que quase nenhum amor tem

Sou exatamente este
O que não se vê quando me olham
O que não sabem do que me conhecem
O que escapa de precipitados conceitos
O que não cabe em tantos tolos desígnios
O que não se encaixa em rótulos perfeitos
O que destoa de modelos pré-concebidos
E não se enquadra na tão fácil adivinhação
O que não se percebe no meio da multidão
O que não se prende em qualquer prisão

Sou exatamente este
Mas sem ser muito ou pouco
Ou tampouco ser o bastante
Sou este nada no meio de tudo
Sou este tudo no meio de nada
A palavra que não explica palavra alguma
Alguma palavra que não explica a palavra
A poesia como vem, nua, crua e vazia
A pedra fria que se fia no calor do sol
Luz vadia que se oculta na escuridão
A contradição, o dilema, a questão
A resposta, a dúvida, a constatação
Tudo que imagino além da indagação

Exatamente este eu sou
Metade vida, metade morte
Metade silêncio, metade poesia
Metade conquista, metade sorte
Metade verdade, metade sonho
Metade disfarce, metade vaidade
Metade realidade, metade ilusão
Metade anjo, metade demônio
Metade céu, metade abismo
Metade horizonte, metade inferno
Metade brisa, metade tempestade
Metade mar, metade deserto
Metade que guardo, metade que disponho
Metade todo mundo, metade eu mesmo
Metade qualquer um, metade solidão
Metade prazer, metade essa dor
Metade razão, metade emoção
Metade da tua metade de amor
Mais que a metade da tua paixão
E as duas metades de uma saudade
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 04/01/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2707815
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