TUDO IGUAL
O mesmo despertar sem nexo.
Eterno lusco fusco do quarto,
o mesmo banheiro, branco sem graça
eterno espelho manchado,
pressa constante,
café do bar sem sabor,
o mesmo ônibus, veloz, inconsequente,
trocadora de ontem, cara de poucos amigos,
metrô, o mesmo que não espera jamais...
ruas empoeiradas, nuas de árvores
vestidas de camelôs,
o menino do papelzinho,
"dinheiro rápido"
dinheiro que nunca chega ao meu bolso,
a mesma sala me espera,
ao longo de vinte e tantos anos...
as mesmas vozes, o mesmo telefone
mesmos assuntos, mesmos rostos
a mesma sensação de fracasso,
sempre a espera do que não virá.
Sem sonhos agora,
apenas ela, a realidade,
de negro a sorrir do meu cansaço
vontade de dormir,
só isso peço, dormir sem hora para acordar