TUDO IGUAL

O mesmo despertar sem nexo.

Eterno lusco fusco do quarto,

o mesmo banheiro, branco sem graça

eterno espelho manchado,

pressa constante,

café do bar sem sabor,

o mesmo ônibus, veloz, inconsequente,

trocadora de ontem, cara de poucos amigos,

metrô, o mesmo que não espera jamais...

ruas empoeiradas, nuas de árvores

vestidas de camelôs,

o menino do papelzinho,

"dinheiro rápido"

dinheiro que nunca chega ao meu bolso,

a mesma sala me espera,

ao longo de vinte e tantos anos...

as mesmas vozes, o mesmo telefone

mesmos assuntos, mesmos rostos

a mesma sensação de fracasso,

sempre a espera do que não virá.

Sem sonhos agora,

apenas ela, a realidade,

de negro a sorrir do meu cansaço

vontade de dormir,

só isso peço, dormir sem hora para acordar

Arabela Figueiró
Enviado por Arabela Figueiró em 03/01/2011
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