O Infiel
Ele olhava para o mar infinito até o horizonte, numa linha reta que atravessava o gesto de mais um gole fresco, frutado e dourado, com o qual Beatriz harmonizava a carne branca e macia de um linguado, que, a poucos dias atrás, ainda fazia parte daquele inútil infinito azul jobiniano.
Não, não teria coragem, deveria hoje mesmo ligar para ela e desfazer o combinado naquela noite de sexo e paixão, pois, aquela Beatriz emoldurada em areia e mar ali na sua frente seria infinita enquanto durasse a praga do poeta.
Dez anos depois, ele sozinho, depois de muitas outras “elas” acompanhando noites de sexo e paixão, se encontrou com ela, e ao vê-la, maravilhosamente bem, lembrou-se do que o martirizara durante tanto tempo: quem nega duas vezes, está afirmando; e agora era muito tarde, a noite já mergulhava negra sobre a inútil paisagem.