DE DESABAFO A ULTIMATO
(Um poema para poucos e raros)
I
O mundo é feio.
(Não contemos isso para as crianças,
que as ilusões se desmantelam aos poucos
e demanda um certo tempo para crescer sem medo).
Mas o mundo é feio.
De uma feiúra triste e lamentável
tanto quanto imperceptível.
Constroem-se com esmero tantos horrores
e destroem-se as belezas impiedosamente.
Com poucas palavras se desfazem tantos sonhos
e com a ausência de uma ou outra palavra que valha
é que se erguem os maiores e piores pesadelos.
Há pessoas-ilha cercadas de ego por todos os lados,
e pedestais construídos ao gosto de cada freguês,
há redomas não-me-toques porque estou limpo,
há um não chegue assim muito perto porque sou puro
e um tal de não te vejo daqui onde sou tão superior.
Há também maldade-pessoas destiladas com fina ironia
numa precária soberba de esconder as mediocridades.
Há sabedorias garimpadas nos becos e nas esquinas
expressada em sofrível prosa e em pobre poesia.
Há doutos pretensos sábios embrenhados em florestas de equívocos
morrendo de fome e de sede num deserto dos que não os ouvem.
É triste ver a maledicência adentrada impune nos templos,
enquanto entoam as mais puras preces nos piores bares
e tanta mulher digna no puteiro e tanta puta no high society.
E os poetas, amantes da vida e cantantes do amor, oh, o amor
com seus versos-adaga a ferir mortalmente o coração alheio,
não sei se por inveja, preconceito, incompetência ou medo,
aquele medo que acomete a alguns bem diante do espelho.
Ou talvez por nefasto divertimento sem o devido consentimento.
E a poesia-esgoto exala em sua essência seu forte mau cheiro,
merda lírica, merda bucólica, merda lúdica, merda pura
infectando a provável pureza de qualquer imaginação.
II
Eu não professo esse paganismo poético.
Meu paganismo é lírico, lúdico e profético.
Eu tenho estradas, mas não tenho caminhos,
não me faço de palavras-passos e sim de passos,
não me fio em ideias assim tão velhas de novas.
A alquimia de minhas palavras não cria verdades,
não essas verdades, não quaisquer verdades
como essas que carecem de lógica e bom senso,
que prescindem de emoção e de sentimento,
minhas ideias são sonhos de ideias que eram ideias
que de tão plausiveis tenho de torná-las sonhos.
Época vil dos desarticulados e mal ajambrados,
de desgraçados destroçados pobres coitados,
de desalmados de tanto que são mal amados,
que se vestem de púrpura e dourado para ocultar
o coração frio e duro, putrefato, enferrujado.
Que ostentam nessa tela luminosa sua luz falsa
e chafurdam na escuridão mais inconcebível.
Vão ler! Vão ser! Vão ter! Vão saber! Vão crer!
Vão se foder... (E vão aprender!)
Época vil dos domesticados a se valer tanto
de um deus distraído que dorme e descansa
e praticarem em seu nome todo tipo de infâmia
(para depois implorar o impossível e improvável perdão)
A ignomínia grassa na boca dos tolos e ignorantes,
uma fúria incontida do revide no ato intempestivo
é tudo que vomitam sem muito pensar antes,
que sempre resulta na bela forma de um poema indigestivo.
(E hei de ter sempre fome, sede e desejo de poesia...)
Certificado aos escritores, habilitação aos poetas
que souberem a diferença entre substantivo e adjetivo,
economizando este e respeitando aquele...
Todas as coisas tem nomes por que atendem.
Época vil dos lacaios da super-informação,
dos sub-alimentados do dom da inspiração,
do mau gosto, da falta de gosto, do desgosto.
III
O mundo é feio e sou triste.
O mundo está cheio e estou só.
Qualquer ideia de imortalidade não resiste
à ideia de que todos nos tornaremos apenas pó.
Na terra não passamos de vermes rastejantes,
rastejamos enquanto pensamos que pensamos.
A noção de felicidade nos é dada quase por um triz
enquanto pretensos sábios e poetas se fazem ruminantes.
E o quanto antes antecipo-me em dizer
que não sou feliz e nem sou infeliz,
por que sei que tudo que sou é quase por um triz.
O mundo é feio demais para piorar com poesia.
É complicado demais para complicar com filosofia.
Ermo demais para se perder em religião.
Pleno de demência para se consertar só com ciência.
Dai-me paciência, fora aparência, quero essência!
Cadê a raça humana?
Em que buraco se mete para apodrecer?
Cadê a humanidade?
Em que silêncio se oculta para esquecer?
Cadê a poesia? Poesia, cadê? Cadê o quê?
O que é feito do amor?
Esse jogo tolo para suprir nossas carências...
Dai-me paciência!
Podem me tirar o que tenho e o que eu não tenho,
podem me levar tudo e podem levar um pouco mais
Só não me tiram a força que tem essa vontade,
não me tiram essa vontade de viver...
(E calem-se! Já se faz tarde e passa da hora de pensar...)
(Um poema para poucos e raros)
I
O mundo é feio.
(Não contemos isso para as crianças,
que as ilusões se desmantelam aos poucos
e demanda um certo tempo para crescer sem medo).
Mas o mundo é feio.
De uma feiúra triste e lamentável
tanto quanto imperceptível.
Constroem-se com esmero tantos horrores
e destroem-se as belezas impiedosamente.
Com poucas palavras se desfazem tantos sonhos
e com a ausência de uma ou outra palavra que valha
é que se erguem os maiores e piores pesadelos.
Há pessoas-ilha cercadas de ego por todos os lados,
e pedestais construídos ao gosto de cada freguês,
há redomas não-me-toques porque estou limpo,
há um não chegue assim muito perto porque sou puro
e um tal de não te vejo daqui onde sou tão superior.
Há também maldade-pessoas destiladas com fina ironia
numa precária soberba de esconder as mediocridades.
Há sabedorias garimpadas nos becos e nas esquinas
expressada em sofrível prosa e em pobre poesia.
Há doutos pretensos sábios embrenhados em florestas de equívocos
morrendo de fome e de sede num deserto dos que não os ouvem.
É triste ver a maledicência adentrada impune nos templos,
enquanto entoam as mais puras preces nos piores bares
e tanta mulher digna no puteiro e tanta puta no high society.
E os poetas, amantes da vida e cantantes do amor, oh, o amor
com seus versos-adaga a ferir mortalmente o coração alheio,
não sei se por inveja, preconceito, incompetência ou medo,
aquele medo que acomete a alguns bem diante do espelho.
Ou talvez por nefasto divertimento sem o devido consentimento.
E a poesia-esgoto exala em sua essência seu forte mau cheiro,
merda lírica, merda bucólica, merda lúdica, merda pura
infectando a provável pureza de qualquer imaginação.
II
Eu não professo esse paganismo poético.
Meu paganismo é lírico, lúdico e profético.
Eu tenho estradas, mas não tenho caminhos,
não me faço de palavras-passos e sim de passos,
não me fio em ideias assim tão velhas de novas.
A alquimia de minhas palavras não cria verdades,
não essas verdades, não quaisquer verdades
como essas que carecem de lógica e bom senso,
que prescindem de emoção e de sentimento,
minhas ideias são sonhos de ideias que eram ideias
que de tão plausiveis tenho de torná-las sonhos.
Época vil dos desarticulados e mal ajambrados,
de desgraçados destroçados pobres coitados,
de desalmados de tanto que são mal amados,
que se vestem de púrpura e dourado para ocultar
o coração frio e duro, putrefato, enferrujado.
Que ostentam nessa tela luminosa sua luz falsa
e chafurdam na escuridão mais inconcebível.
Vão ler! Vão ser! Vão ter! Vão saber! Vão crer!
Vão se foder... (E vão aprender!)
Época vil dos domesticados a se valer tanto
de um deus distraído que dorme e descansa
e praticarem em seu nome todo tipo de infâmia
(para depois implorar o impossível e improvável perdão)
A ignomínia grassa na boca dos tolos e ignorantes,
uma fúria incontida do revide no ato intempestivo
é tudo que vomitam sem muito pensar antes,
que sempre resulta na bela forma de um poema indigestivo.
(E hei de ter sempre fome, sede e desejo de poesia...)
Certificado aos escritores, habilitação aos poetas
que souberem a diferença entre substantivo e adjetivo,
economizando este e respeitando aquele...
Todas as coisas tem nomes por que atendem.
Época vil dos lacaios da super-informação,
dos sub-alimentados do dom da inspiração,
do mau gosto, da falta de gosto, do desgosto.
III
O mundo é feio e sou triste.
O mundo está cheio e estou só.
Qualquer ideia de imortalidade não resiste
à ideia de que todos nos tornaremos apenas pó.
Na terra não passamos de vermes rastejantes,
rastejamos enquanto pensamos que pensamos.
A noção de felicidade nos é dada quase por um triz
enquanto pretensos sábios e poetas se fazem ruminantes.
E o quanto antes antecipo-me em dizer
que não sou feliz e nem sou infeliz,
por que sei que tudo que sou é quase por um triz.
O mundo é feio demais para piorar com poesia.
É complicado demais para complicar com filosofia.
Ermo demais para se perder em religião.
Pleno de demência para se consertar só com ciência.
Dai-me paciência, fora aparência, quero essência!
Cadê a raça humana?
Em que buraco se mete para apodrecer?
Cadê a humanidade?
Em que silêncio se oculta para esquecer?
Cadê a poesia? Poesia, cadê? Cadê o quê?
O que é feito do amor?
Esse jogo tolo para suprir nossas carências...
Dai-me paciência!
Podem me tirar o que tenho e o que eu não tenho,
podem me levar tudo e podem levar um pouco mais
Só não me tiram a força que tem essa vontade,
não me tiram essa vontade de viver...
(E calem-se! Já se faz tarde e passa da hora de pensar...)