INTERMEZZO

(em estado bruto de um parágrafo)

Enquanto os homens vivem com o propósito de vencer na vida e concebem essa vitória como sendo o acúmulo de bens e de destaque social e ainda, como há nessa intenção o choque inevitável de interesses egoístas e suicidas (e é por isso que eles inventam fronteiras e estabelecem as guerras que podem destruir todo o mundo). Esse mesmo mundo que eles imaginam ser o palco de glórias imediatas conseguidas sob os auspícios da alienação geral e da mesmice conseqüente à falta de discernimento crítico (e é por isso essa ausência de critérios que possam estabelecer valores dentro de uma visão totalizante). Enquanto isso, alguns (poucos) homens vivem tranqüilamente, embora intranqüilos ao extremo, sob o signo da morte. E não esperam com ela a salvação vesga e ridícula que nos prometem as diferentes igrejas (construídas pelos homens ao longo dos tempos e que têm em seu caráter hierárquico e mercantil o alicerce para as compensações prometidas no além e compradas a prazo com a aceitação submissa de regras que visam afastar o homem da sua própria condição). Mas esses poucos homens não se perderam ou se deixaram levar por expedientes que os afastassem de si mesmos e a morte é o nosso gesto de afirmação para com esse “reino” de seletos que foram excluídos no tempo pela única razão de que tinham uma perfeita compreensão do tempo e das contradições inerentes à espécie humana (que criou, entre outros absurdos, a celebridade dos homens mesquinhos que fizeram – e fazem ainda e sempre – a história ensinada nos livros didáticos). Mas a verdadeira percepção está com aqueles gênios humanos que passaram despercebidos em vida e deixaram através de suas idéias, o rastro para a compreensão (embora desencantada, mas de qualquer forma a única possível) da inutilidade dos homens e de seu destino inútil, como todo o resto, aliás.

Milton Rezende
Enviado por Milton Rezende em 27/12/2010
Código do texto: T2693767
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