Alfa de Juno
O mundo é insípido. Incolor, inodor, inóculo, não indolor.
Caminhei com rumo certo, porém, não sabia onde ir. Conhecia bem meu destino, mas não encontrei objetivo nele.
Pessoas assassinam diariamente a gramática e a moda que elas mesmas regem. As regras mudam, e gostando ou não, mudamos com elas, como camaleões habilidosos, diante da eterna expectativa predatória. Já estivemos, outrora, no topo da cadeia alimentar, mas em novos panoramas, constituímos apenas a parte mais esperta desse ecossistema decadente, canibal e vicioso.
As massas parecem cupins frenéticos, em um dia comemorativo qualquer, em que os amantes se presenteiam.
Observei-as apenas com a intenção de não esbarrar nelas, em pleno centro comercial. Os cupins não merecem tal comparação por serem organizados, mas merecem, sim, por sua capacidade destrutiva para com a madeira. E a madeira, são as virtudes.
Nadei neste lago raso, e ele me afogou. O lago tem braços invisíveis, pois fazem parte do mundo, e ele me afoga por precisar fazer parte dele. O que é profundo não deve vir à tona, pois se é profundo, deve permanecer nas profundezas. O raso sufoca mais do que o profundo, e o que vem de lá não sobrevive na superfície, como criaturas marinhas dos sub-oceanos que os tsunamis arrastam, e algumas senhoras assistindo o jornal da noite, acreditam tratarem-se de extraterrestres com guelras. Por isso me calo, diante de tudo. Por isso me adéquo à modernidade eminente. O que eu penso, o que eu faço, nada mais é do que um simples peixe, que jamais foi visto antes de um desastre natural. A Terra luta contra seus parasitas, e eu, contra meus demônios...todos temos nossos santos interiores, nossas devoções, e nosso caos paralelo. A cidade está cheia de flores, mas elas não perfumam mais meus peixes, não enfurecem mais meus demônios, não amaciam mais os meus santos.