Credo

Não falo mais a língua dos sábios,

não ando mais nos tempos das luvas,

não piso mais em terras alheias.

Hoje falo a língua dos mudos

onde os gestos não precisam de palavras.

Hoje percorro os tempos racionais

onde até para pensar cobram-se tributos.

Luvas?

Nem para enfeitar as mãos quando acenam um adeus

ou para cumprimentar os amigos.

Hoje me guardo em silêncios profundos

e não planto orquídeas para que floresçam em outubro.

Estou começando a crer

no amadurecimento das frutas

quando ainda são apenas mudas.

E creio nos anjos,

nos lobos

e nos crepúsculos.