O amor platônico do meu amigo como pretexto para recordar Noel Rosa

"Eu sei tudo o que faço

sei por onde passo

paixão não me aniquila

Mas, tenho que dizer,

modéstia à parte,

meus senhores,

Eu sou da Vila!" (Noel Rosa)

Este sentimento chamado amor platônico vem dos tempos do filósofo Platão, que criou uma separação entre corpo e espírito. Na Idade Média, os trovadores buscavam o amor sublime, eterno, puro, divorciado da carne, vista como algo pecaminoso. Os românticos de todos os tempos ainda têm, mesmo que inconscientemente, esta visão distorcida do amor humano. Foram narrados em prosa e verso os amores imaginários e até os que não deram certo, os amores platônicos. Romeu e Julieta, o amor de Dante por Beatriz nos introduzem neste complicado amor platônico, que me lembra um amigo da juventude, atormentado por esse sentimento e que vive esse amor até os dias de hoje.

Noel Rosa, o nosso gênio da música popular, poeta de Vila Isabel, lá no Rio de Janeiro, boêmio nato, da década de 30, não foi nessa conversa e teve muitos amores, bem concretos, sendo o mais famoso o que teve com Ceci, dançarina da Lapa. Uma lástima que a cidade do Rio tenha perdido a memória de sua encantadora história e as novas gerações de cariocas desconheçam completamente os grandes vultos da sua cidade. A propósito, o centenário de Noel ocorreu no dia 11 de dezembro deste ano de 2010, praticamente sem qualquer festividade. O que acontece hoje com o Rio de Janeiro tem muito a ver com a perda da sua alma, da sua identidade e aquela gostosa e merecida paixão pela cidade não existe mais. O músico Henrique Cazes falou outro dia sobre isso e disse que não dá pra se apaixonar pelo Rio sem conhecer os grandes de todas as épocas, como os escritores Machado de Assis, Nelson Rodrigues (esse carioca honorário) e Sergio Porto, o Estanislau Ponte Preta, e os músicos de todos os tempos Noel Rosa, Cartola e Nelson Cavaquinho. Eu acrescentaria ainda os cantores Chico Alves, Aracy de Almeida,Dick Farney, Ângela Maria, Dolores Duran, o cronista Antonio Maria, pernambucano, mas com alma de carioca, Mario Lago, o mineiro/carioca Ataulfo Alves, Tom Jobim, o poetinha Vinicius, bem como outros cariocas honorários como o mineiro Ary Barroso, o gaúcho João Saldanha, o acreano Armando Nogueira, e o "turco" Ibraim Sued, dentre tantos, tantos outros.

Pois bem, feito o registro que não poderia deixar de ser feito, vou encerrar com o anônimo amor platônico do meu amigo de juventude, que não conheceu Noel, fisgado por esse sentimento espiritual, que mencionei quando iniciei esta crônica.

Foi um amor sublime, sem defeitos, sem choques, sem feiúra, sem acidentes. Era só ternura, encantamento, beleza e alegria. Neste amor sem mácula, lá estavam suas melhores esperanças, seus melhores sentimentos, seu êxtase. Este amor maravilhoso foi tudo para ele, vivendo dele até hoje. Jamais encontraria mulher igual e ficaria pela eternidade afora ao seu lado, sem nunca se cansar. Desde o primeiro encontro, os primeiros passeios, as primeiras conversas, os primeiros olhares, não foi mais possível esquecê-la e nem abandoná-la. Quando pensa nela, o mundo se transforma e um incontido amor pela vida toma conta de todo o seu ser. Não necessita de nada, senão amá-la, amá-la e amá-la!

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Por onde andará esse amor, que caminhos tomou, o que fez da sua vida? Esse amor puro, extraordinário, imenso, jamais se concretizou, faltou coragem, no momento certo, de se declarar . Ele está com ela, porém ela não está com ele, nem saberá jamais deste sublime amor!

Restou-lhe o acróstico de sua amada, sempre recitado pelo amigo nas horas de maior solidão!

C om esta lembrança poética

A menizo minha dor

R eencontro meu amor

M e lastimo e choro

E nfim, sinto saudade

N ada mais posso fazer.