Nos sonhos, escadas
Na vida o poço sem fundo
No fundo mais uma queda
De perder minhas asas
E a intenção dum anjo
Que despenca de mim
E eu me arranjo
Pra fora das horas, dos dias
Das vãs alegrias e tolos sonhos
Da certeza das casas
Da solidão das ruas
E do silêncio das madrugadas

Eu bem que me arranjo
Sem o sabor das melodias
Sem a cor das palavras
Sem a luz dos sorrisos
Sem os olhos e os olhares
Com que me perco
Além de onde posso ir

Então atira na altura do peito
A palavra envenenada
A fúria desmedida
Duma mágoa incontida
Atira-me na cara
Toda a falta de vida
De ida e de medida
Atira-me na altura dos olhos
A cegueira, a surdez, a mudez
Vem luz por aí
E vem palavra
Vem essa música
Não dizer mais de nós

E eu tenho que aprender
Dos sonhos as escadas
E da vida o fundo mais fundo
Que eu possa ir e voltar
Ainda que sem asas...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 16/12/2010
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2674291
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